NOVOS HÁBITOS NA CIDADE ADORMECIDA
Não foram só as baixas e as vítimas fatais que já passam das 100 mil.
O coronavírus está atacando, sem piedade, os maiores símbolos dos maiorais do mundo.
Sem atingir uma única edificação.
A liberdade virou só uma estátua na boca da barra do Hudson.
O direito de ir e vir, restrito aos cubículos de metro quadrado mais caros do planeta.
A livre iniciativa, de férias voluntárias.
As usinas de conhecimentos em modo pause.
Broadway, de luzes apagadas.
Acostumados aos pódios em todas as competições, vão levar também a medalha de ouro, nesta que as outras nações fazem questão de ultrapassar logo a curva depois do pico mas para cruzar a linha de chegada, preferem os últimos lugares.
Ao longo da interminável e sinistra batalha, começam a serem reveladas as táticas usadas pelo invasor.
Chegar sem aviso, sem visar o passaporte.
Entrar pela porta da frente, sem bater.
Não dar a mínima para os cofres abarrotados de Wall Street.
Fazer a cidade dormir pela primeira vez. Sem canções de ninar.
Provocar terror. Maior que o maior de todos.
Anestesiar a população.
Levá-la a respirar com ajuda de aparelhos.
Dominar tudo como nunca antes, desde que a Nova Amsterdã foi fundada na segunda tentativa da família Orange-Nassau de conquistar a América.
Não dar a mínima para quartéis e arsenais nucleares secretos.
Destroçar os serviços de saúde.
Esgotar as armas de defesa, deixando os soldados da assistência sem proteção individual.
Já dá pra ver com bastante clareza.
O alvo é a autoestima.
Para atingir no peito esquerdo o orgulho dos adversários, o exército inimigo só precisou provocar medo.
De perder o que sempre tiveram, conquistado com esforço pessoal, merecedores de terem chegado ao topo.
Aquartelados em suas próprias casas, tementes do golpe fatal, trataram de armazenar víveres e o que mais precisariam para um longo período. Um inverno sem preceder a primavera.
O primeiro produto a faltar foi o papel higiênico. Essencial, na situação e no costume.
Na Louisiana, os franceses deixaram de presente Nova Orleans mas não o hábito do uso do bidê.
Agora, o jornal The New York Times ensina como substituir o produto que não se encontra nem na Amazon, nem na bodega da esquina. (Yes, os cucarachas conseguiram dicionarizar o nome).
As sugestões vão da substituição por toalhinhas umidificadas à troca do vaso por um tão smart que esguicha água perfumada, passando por folhas colhidas no Central Park e o próprio NYT (de ontem), até o mais incrível para uma sociedade tão evoluída.
Tem americano (do norte) guardando e fazendo bom uso dos sabugos de milho.