3 de maio de 2024
Memória

O CIRCO MÁGICO

O Circo (1964) – Marc Chagall – Coleção privada


Na volta do período de isolamento pela pandemia  não foi revelado  um mistério ainda indecifrado.

E mágico.

Onde estavam os circos quando ninguém podia sair de casa para ver as coisas fantásticas, incríveis e maravilhosas que só forasteiros com poderes e dons sobre-humanos conseguem fazer?

Deve existir alguma terra encantada onde eles passam as temporadas afastados dos pensamentos e da imaginação das crianças de todas as idades.

O mesmo lugar de onde vinham quando as férias do meio do ano começavam.

Chegada anunciada com os mesmos gritos do palhaço Biribinha ao megafone de flandre, ecoado pelos meninos de mãos carimbadas.

– Hoje tem espetáculo?

Sim senhor.

Daquela vez era outro o ladrão de mulher.

Nunca  a rainha do agreste havia recebido circo mais popular.

Se bem que a distinta plateia já estivesse acostumada com outros mais famosos, nenhum deles para fazer esquecer o Gran Circo Nerino.

Que nunca mais voltou.

Para quem classificava a qualidade dos mambembes pela variedade de animais nas jaulas apertadas, não era pra se esperar grandes novidades do Circo Mágico Nelson.

A grande expectativa se o ilusionista que dá nome ao cast, é capaz de fazer desaparecer sua partner no centro do picadeiro de luzes acesas e piscantes.

Ou seria só mais um daqueles tomara que não chova que só atraiam o público no dia da feira, anunciam mais do que têm e somem sem deixar saudade?

Foi só abrirem as cortinas do palco e aparecer um rapazinho ainda na adolescência, vestindo paletó de tanto brilho e lantejoulas que ninguém teria coragem de vestir na festa de ano do Comercial Atlético Club, para sentir que era apresentação especial.

Sucesso imediato.

Deu logo pra notar pelas palmas e olhares hipnotizados.

Só das meninas.

Se ao menos cantasse de verdade, estaria explicada a fama  instantânea.

Dublagem, qualquer um pode fazer.

Só não havia quem tivesse coragem para tantos trejeitos, caras e bocas.

O mesmo artista, depois do intervalo para a  pipoca, voltava de bigodes postiços como protagonista nos dramas de estórias que terminavam em lenços de adeus, emoções e muitas lágrimas.

A vida do astro não era só de suspiros femininos e aplausos.

Qualquer deslize, passo em falso ou esquecimento da fala, provocava um início de vaia de vozes que nem grossas ainda eram, abafadas por gritos histéricos.

Lindo! Lindo!

A inveja misturada ao ciúme e curiosidade, amadurecidos, viram nostalgia.

E lembranças.

Por onde terá andado Netinho por todo esse tempo?

Será que correspondeu ao amor de alguma fã e já tenha, também, netos?

N. Do R.

Entre 1967 e 1980 existiu um circo chamado Circo Mágico Nelson que circulava pelo nordeste brasileiro apresentando espetáculos em que o forte eram seus palhaços e suas peças teatrais.

Herdeiro dos Circos Teatros que já não mais existiam nessa época, tanto fez o público chorar como rir.

Seu fundador, o ator, dramaturgo e ensaiador Nelson Silveira, formou família numerosa que até hoje atua, em sua 4ª geração, nos picadeiros.

(Fonte: circomagiconelson.blogspot.com)

 

 

(Publicação original em 04/11/21)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *