2 de maio de 2024
futebol

O ESPÍRITO DE PAOLO ROSSI

Sócrates, 1986 –Aldemir Martins


Há dois anos, a  notícia da morte de
Paolo Rossi despertava traumas nunca esquecidos.

Lembranças amargas voltam a ser atiçadas pelos pênaltis perdidos para a Croácia.

Em 1982, Zico, Sócrates, Falcão e Cia começaram arrasando.

Nas oitavas, passeio, goleadas, eliminação da Argentina e Galvão Bueno  já repetindo à exaustão que era  muito bom ganhar dos hermanos.

A nação  que acordava de um longo pesadelo, precisava de algo que marcasse o fim de uma era.

A triste página a ser virada da história, merecia muitos gols de placa, medalhas de ouro e o caneco, pela quarta vez.

Eram novos os ares da política.

Os carrancudos generais-presidentes já não metiam medo.

Ninguém mais era preso nem arrebentado.

Tortura, nunca mais.

A abertura gradual, próxima de escancarar as últimas portas, já não era tão lenta.

O teste dos saguões dos aeroportos, cheios de gente, com os craques da política voltando do exílio nos ombros do povo, foi didático.

Muitas meias dúzias de brahmas e mil panelas de feijão preto depois, não dava mais pra segurar o grito dos campeões do mundo.

O sonho já era possível. E o clamor pelas eleições livres, um brado só.

Logo, as ruas estariam cheias, seguindo a canção, o senhor diretas e o hino puxado por Fafá de Belém.

O jogo contra um timinho desacreditado, mais para sparring, era só um degrau, faltando três para a glória.

Aquele centroavante franzino, dois anos longe dos gramados, só podia ser piada de italiano.

Spaghetti alla Carbonara a ser devorado com fome de vencedor.

Quem iria imaginar que três gols, saídos daquelas pernas de sibite, lavariam em lágrimas, as esperanças da pátria de chuteiras?

A sofrida memória revivida novamente, não mais pelo  goleador implacável.

No goleiro, Dominik Livaković e os pênaltis mal batidos.

Só tem um jeito de  entender o que os cinquentões e os mais experimentados estão passando.

Lembrem-se também de Zinedine Zidane.


(O texto contém partes publicadas em 12/12/2020, com o título Geração Zidane)

 

Time de Futebol (1966) – Aldemir Martins *** Às obras de Aldemir Martins (1922/2006) estão expostas do Museu de Arte da Universidade do Ceará                                                                                    

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