O ESPÍRITO DE PAOLO ROSSI
Há dois anos, a notícia da morte de Paolo Rossi despertava traumas nunca esquecidos.
Lembranças amargas voltam a ser atiçadas pelos pênaltis perdidos para a Croácia.
Em 1982, Zico, Sócrates, Falcão e Cia começaram arrasando.
Nas oitavas, passeio, goleadas, eliminação da Argentina e Galvão Bueno já repetindo à exaustão que era muito bom ganhar dos hermanos.
A nação que acordava de um longo pesadelo, precisava de algo que marcasse o fim de uma era.
A triste página a ser virada da história, merecia muitos gols de placa, medalhas de ouro e o caneco, pela quarta vez.
Eram novos os ares da política.
Os carrancudos generais-presidentes já não metiam medo.
Ninguém mais era preso nem arrebentado.
Tortura, nunca mais.
A abertura gradual, próxima de escancarar as últimas portas, já não era tão lenta.
O teste dos saguões dos aeroportos, cheios de gente, com os craques da política voltando do exílio nos ombros do povo, foi didático.
Muitas meias dúzias de brahmas e mil panelas de feijão preto depois, não dava mais pra segurar o grito dos campeões do mundo.
O sonho já era possível. E o clamor pelas eleições livres, um brado só.
Logo, as ruas estariam cheias, seguindo a canção, o senhor diretas e o hino puxado por Fafá de Belém.
O jogo contra um timinho desacreditado, mais para sparring, era só um degrau, faltando três para a glória.
Aquele centroavante franzino, dois anos longe dos gramados, só podia ser piada de italiano.
Spaghetti alla Carbonara a ser devorado com fome de vencedor.
Quem iria imaginar que três gols, saídos daquelas pernas de sibite, lavariam em lágrimas, as esperanças da pátria de chuteiras?
A sofrida memória revivida novamente, não mais pelo goleador implacável.
No goleiro, Dominik Livaković e os pênaltis mal batidos.
Só tem um jeito de entender o que os cinquentões e os mais experimentados estão passando.
Lembrem-se também de Zinedine Zidane.
(O texto contém partes publicadas em 12/12/2020, com o título Geração Zidane)