6 de maio de 2024
Memória

O MENINO VIU O GOLPE

 

Pátria (1919) – Pedro Bruno – Museu da República, Rio de Janeiro


A
revolução que depois virou golpe,  deve ou não ser comemorada, 55 anos depois?

Polêmica à parte, todos concordam  que deve ser lembrada, sim.

Pelo bem ou pelo mal.

Um menino de 11 anos, interno no Colégio Salesiano do Recife faz a sua parte  e rememora seu papel de figurante naquela história.

Alguma coisa de muito diferente estava acontecendo.

Não era feriado, nem dia santo de guarda  e mesmo assim, não houve aulas por alguns dias.

A explicação que ninguém entendeu, era um tal de “estado de sítio”.

Portões fechados.

Nem Charuto, o sorveteiro da FriSabor,  podia entrar.

Nas missas diárias e obrigatórias, muita reza  para o êxito do movimento que “vinha para livrar o país do comunismo ateu”.

Com o retorno à normalidade e dos colegas externos,  relatos de soldados e tanques de guerra nas ruas, prisões e pessoas desaparecidas.

O clima de incerteza logo passou a ser de otimismo  e júbilo por parte dos padres.

Sentimentos exaustivamente  transmitidos aos alunos.

Se o IBOPE tivesse feito pesquisa naquela época, não precisaria nem calcular a margem de erro: 100% de aprovação do Movimento Revolucionário.

Pouco tempo depois, a primeira visita do Presidente Castelo Branco (era assim mesmo que era chamado o sisudo Marechal) à cidade.

Recepção com todas as honras, desfile militar e dos principais colégios na Praça do Derby.

Ambiente de festa.

Ruas e pontes embandeiradas e multidões pelas calçadas.

Mal comparando, um Galo da Madrugada fora de época.

Todos  saudando o homem que havia ajudado a livrar o Brasil dos sanguinários comunistas soviéticos e cubanos.

E todos lá, incluída a turma do dormitório dos médios, gozando outro feriado.

De farda de gala, soprando a corneta e fazendo evoluções na banda marcial.

Cheio de orgulho em comemorar o 31 de março.

Ou terá sido, o 1° de abril?

 

 Sargento Borges – Pedro Bruno (1888/1949) – Museu do Corpo de Fuzileiros Navais, Ilha das Cobras, Rio de Janeiro

               (Texto publicado em 31/03/2020)

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