O MENINO VIU O GOLPE
Pátria (1919) – Pedro Bruno – Museu da República, Rio de Janeiro
A revolução que depois virou golpe, deve ou não ser comemorada, 55 anos depois?
Polêmica à parte, todos concordam que deve ser lembrada, sim.
Pelo bem ou pelo mal.
Um menino de 11 anos, interno no Colégio Salesiano do Recife faz a sua parte e rememora seu papel de figurante naquela história.
Alguma coisa de muito diferente estava acontecendo.
Não era feriado, nem dia santo de guarda e mesmo assim, não houve aulas por alguns dias.
A explicação que ninguém entendeu, era um tal de “estado de sítio”.
Portões fechados.
Nem Charuto, o sorveteiro da FriSabor, podia entrar.
Nas missas diárias e obrigatórias, muita reza para o êxito do movimento que “vinha para livrar o país do comunismo ateu”.
Com o retorno à normalidade e dos colegas externos, relatos de soldados e tanques de guerra nas ruas, prisões e pessoas desaparecidas.
O clima de incerteza logo passou a ser de otimismo e júbilo por parte dos padres.
Sentimentos exaustivamente transmitidos aos alunos.
Se o IBOPE tivesse feito pesquisa naquela época, não precisaria nem calcular a margem de erro: 100% de aprovação do Movimento Revolucionário.
Pouco tempo depois, a primeira visita do Presidente Castelo Branco (era assim mesmo que era chamado o sisudo Marechal) à cidade.
Recepção com todas as honras, desfile militar e dos principais colégios na Praça do Derby.
Ambiente de festa.
Ruas e pontes embandeiradas e multidões pelas calçadas.
Mal comparando, um Galo da Madrugada fora de época.
Todos saudando o homem que havia ajudado a livrar o Brasil dos sanguinários comunistas soviéticos e cubanos.
E todos lá, incluída a turma do dormitório dos médios, gozando outro feriado.
De farda de gala, soprando a corneta e fazendo evoluções na banda marcial.
Cheio de orgulho em comemorar o 31 de março.
Ou terá sido, o 1° de abril?
Sargento Borges – Pedro Bruno (1888/1949) – Museu do Corpo de Fuzileiros Navais, Ilha das Cobras, Rio de Janeiro
(Texto publicado em 31/03/2020)