3 de maio de 2024
Memória

JOGO CABREIRO

Os Jogadores de Cartas (1892) – Paul Cezzane – Museu Metropolitano de Arte, MoMa, Nova Iorque


A polêmica é antiga e sempre  motivo de ânimos acirrados.

Se os chamados jogos de azar devem  ser legalizados.

Os de sorte estão aí, arrecadando dinheiro para o governo, sem causar males aparentes.                     Não são mais questionados.     

Com a fúria arrecadadora de impostos do novo-governo-velho, não será surpresa a criação da BetBras, empresa com potencial para abrigar um punhado e meio de neo companheiros do centrão.                 

Viciados numa fezinha, enfrentam longas filas e gastam uma boa parte dos salários só para não perder o direito de sonhar.

Com uma bolada da mega, quina, timemania, lotofácil e outros menos sortudos.

Jovens bons em matemática trocam os cursos de graduação pela promissora profissão de jogador de poker online.

A proibição não evita mais nada. Cada notebook uma roleta, todo smartphone um slot.

Houve um tempo  que legalizados ou não, salões de carteado  funcionavam livremente.

Mais honestos que os grandes cassinos que cientificamente, determinam previamente qual o percentual de lucro de cada equipamento, sem dar bolas para a urucubaca.

A casa era o valor cobrado pelo banqueiro para as despesas de manutenção das salas, mesas e baralhos, sempre novos.

Cafezinho e alguma regalia, mantinham a clientela cativa.

E acordada.

O valor das apostas selecionava os contendores pelo poder gastativo.

Os adversários escolhidos entre os próprios atletas.

Na falta de quórum, jogadores profissionais podiam ser acionados, sem prejuízos para as apostas.

Cabreiro era profissão reconhecida.

Sem direito a assentamento na carteira profissional.

Nos fundos do bar, num recinto sem ventiladores e de janelas semi-fechadas para que o vento não revirasse tudo, o calor e frio eram regulados pela emoção da carta chorada, que vinha ou teimava em não vir.

No tempo em que o pif-paf era chamado de relancinho, dos notáveis da paróquia, até o padre era praticante.

Mas nada impedia que vez por outra aparecesse um outro vigarista.

A sequência de rodadas naquele começo de noite foi subitamente interrompida pelo moleque de recados.

O único médico da cidade, com o jogo armado e a sorte promissora , ao saber que estava sendo aguardado com urgência no hospital, esbravejou:

– Isso lá é hora de se quebrar braço!

Os Jogadores de Cartas (1892) – Paul Cézanne – Museu Nacional do Catar.                                                           ***Um dos cinco quadros de Cézanne com o mesmo título, adquirido em 2011, por 250 milhões de dólares, o mais caro da História, até então.


(Este texto,  publicado em 01/09/2020, sofreu atualizações)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *