2 de maio de 2024
Comportamento

O NACO DA MAÇÃ

Adão e Eva no Jardim do Éden (1550) – Ticiano Vecellio, Museu do Prado, Madri


A maior empresa de tecnologia do mundo envia aos seus usufrutuários, relatórios da participação nos negócios.

O somatório do tempo de uso de cada um, grandeza medida em bytes, é a cova rasa que nos cabe no seu  frondoso latifúndio.

Acompanha o demonstrativo, um alerta para o fraco desempenho e o puxão-de-orelha, que o cliente já foi mais participativo.

Em gráfico de powerpoint, tão convincente que parece feito por procurador de lava-jato, a vergonhosa   humilhante redução na média histórica.

De leitura, medida em  míseros  minutinhos.

A rolagem das telas e o vôo de águia sobre as manchetes dos jornais e blogs, bem explicam o fraco desempenho e o fiasco  na fidelidade do ciberleitor.

A informação que toda  produtividade aferida foi realizada em poucos  minutos, além  de provocar um súbito prurido retroauricular, dá margem para contestação.

Não levam em consideração, se  o período analisado incluiu dias à beira mar e leitura em retrógrados meios analógicos, o que pode explicar mudanças nos hábitos de qualquer um.

Na tela deste apontador de fatos inusitados e do  ridículo dos poderosos, inexplicável é que a produção dos textículos, à razão de um por dia, continuou sem interrupções.

Como são produzidos ou reprocessados a dedo indicador, na telinha brilhante, das duas, uma.

Ou a escrita,  tão  rápida, atingiu o estágio de prestidigitação ou trata-se de lamentável, mas aceitável equívoco, de quem tem minucioso trabalho a fazer, enquanto todo mundo ainda curte a ressaca das festas de fim de ano.

Dá pra desconfiar na embriaguez provocada  pelo  pedaço da maçã, arrancado à dentada, e utilizado pelos viventes no vale do silício, para produzir sidra, bebida das  mais  consumidas nesta época do ano.

Não custa lembrar que no Jardim do Éden, os infratores que deram as primeiras mordidelas na fruta proibida, ouviram a maldição repassada  para a descendência e herdada por toda a humanidade, até estes nossos tempos digitais.

…. com dor, comerás dela todos os dias da tua vida.

***

La Gloria (1554) – Ticiano Vecellio, Museu do Prado, Madri

(Esta leitura foi tema deste naco de Território Livre, em 08/01/2020 e consumiu dois minutos do precioso tempo do persistente leitor)

 

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