O RN ter o pior ensino do Brasil é culpa da oposição

Cassiano Arruda Câmara – Tribuna do Norte – 21/09/22

Principal manchete da edição de sábado desta Tribuna do Norte: “RN tem o pior ensino médio do Brasil”.

Pergunto: – De quem é culpa?

Minha resposta: – Da Oposição (ou da fata de Oposição).

Afinal é difícil entender, ou explicar, como, em pleno regime democrático, uma das principais obrigações do Estado tenha sido tão negligenciada, sem que houvesse uma denúncia, uma cobrança diária, contra um crime como este que esteja sendo praticado, sem que a sociedade tenha sido mobilizada para enfrentar essa situação que compromete o nosso presente, se projetando para o futuro.

O mais grave é que esta situação ocorre quando o nosso Rio Grande do Norte – pela primeira vez na sua história – tem na chefia do governo um profissional de educação que, até aqui, não foi cobrada, pelo fato explicado porque ela conseguiu anular a oposição, atraindo alguns deles para dividir as benesses do poder, e até compartilhando os dois outros cargos na sua chapa majoritária.

CULPA DA OPOSIÇÃO

Certamente que essa situação, que deveria envergonhar a todos os norte-rio-grandenses, não começou no atual Governo que não conteve a tendência de queda: nota de 3.3 em 2019 e 2.7 agora..

Mas, no mínimo, se agravou ainda mais nos últimos quatro anos, sob a passividade da sociedade, principalmente de quem tinha a obrigação de denunciar, alertar, cobrar, o que não foi feito nesses quatro anos, quando os interesses pessoais ficaram acima do papel que devia ter sido exercido por quem privilegiou os seus próprios interesses. Os interesses de quem faz política só pensando em si, no seu próprio bem estar, sem cuidar do bem comum, e no caso do ensino público, por poder colocar os seus filhos e netos na escola privada, que oferece, aqui mesmo no RN, um ensino (pago) comparável ao melhor que é oferecido no resto do Brasil.

O noticiário sobre essa situação vexatória é embasado em resultados divulgados pelo Sistema de Avaliação da Escola Básica relativo a 2021 e do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) 2021, que coloca o ensino do Rio Grande do Norte com uma média de 2.8.

A DESCULPA DO GOVERNO

A explicação do Governo do Estado foi dada pela Secretaria de Educação que em vez de mostrar um remédio eficiente para combater a febre, preferiu desacreditar o termômetro.

Em nota divulgada preferiu dizer que os números vergonhosos do Rio Grande do Norte não podem ser comparáveis com outros Estados que “implantaram aprovações automáticas em 2021 próximas de 100% alavancando e distorcendo os seus IDEB, por isso inadequados para comparações entre esses federados”.

Na sua desculpa o Governo confessa que foram apuradas situações de, apenas, 13 escolas, em vez de 300. O IDEB só avalia, escolas com o mínimo de80% de alunos na sala de aula. O seja, aqui, falta o básico: alunos e professores (estou dizendo PROFESSRES) em sala de aula.

O Governo é magnânimo com seu vergonhoso desempenho enxergando uma boa notícia no meio do quadro revelado: “Nas escolas da nossa rede estadual, nos níveis Fundamental e Médio não houve queda relevante na aprendizagem de matemática e houve avanço na aprendizagem de língua portuguesa”. E aponta “o crescimento constante na aprendizagem entre 2013 e 2021”.

E não se ouviu a voz da Oposição (nem uma ação da sociedade organizada) para questionar a instituição de uma situação injustificável, sob todos os pontos de vista.

O X DO PROBLEMA

É preciso entender a importância do Ensino Médio para o presente momento da educação brasileira. Mesmo antes da pandemia, 31% dos estudantes não concluíam a educação básica, e os que concluíam não apresentavam aprendizagem satisfatória, situação capaz de comprometer o próprio futuro.

A visão geral é que a média dos nossos estudantes não está absorvendo o conhecimento, e os egressos da escola pública não estão preparados para os desafios futuros na sociedade e no trabalho.

Imaginem a situação do Estado pior avaliado, como estamos vivendo de forma passiva e resignada, comprometendo toda a classe política, mas atingindo também a sociedade organizada (sindicatos, entidades de classe, lideranças comunitárias, grupos religiosos, clubes de serviço) e o próprio indivíduo pelo imobilismo que continuam adotando sem demonstrar força para mudar uma situação incômoda para o presente e ainda mais desastrosa para o futuro de três milhões e meio de brasileiros.

TEMPO DE PROVOCAÇÃO

Esse artigo é fruto da indignação de quem também se sente culpado no meio de uma história que não tem inocentes.

– Somos todos culpados.

Direcionar a culpa exclusivamente para a Governadora seria isentar a todos, inclusive o locutor que vos fala, de culpa enquanto se assistiu a Chefe do Governo, primeira profissional de educação a ocupar esse posto, a gastar o seu latim anunciando a construção de prédios  (que ainda não concluiu), para um novo programa, sem cuidar daquilo que tinha obrigação de priorizar, com o acréscimo de ter qualificação de toda uma vida cobrando um melhor ensino público, do ponto de vista de melhoria das condições dos colegas professores, os “trabalhadores em educação”, esquecendo o básico: – Professor e  Aluno em Sala de Aula.

Educação é problema de todos.

E precisa ser tratado como tal. Nesta hora, cobrar da Governadora (com atraso) poderia isentar o resto da sociedade pela situação que se implantou no Rio Grande do Norte por culpa da Governadora. Da Oposição. E de todos nós.