2 de maio de 2024
Política

O Sapo

Ana Maria Pimentel para a MadreMedia.pt 21/04/2023

Durante as eleições brasileiras acreditámos com tanta força que Lula era um mal menor, que quase que nos convencemos que era bom.

E, agora, Lula que nunca enganou ninguém, voltou a dizer o que sempre disse publicamente, e sempre pensou.

E nós lembrámo-nos que o senhor do “entre um e outro venha o Diabo e escolha, mas o diabo escolheria o outro”, vinha falar a Portugal no dia da democracia.

A questão é o não reconhecimento da invasão da Ucrânia e a responsabilidade da guerra por Moscovo.

O problema não é Lula ter dito o que sempre pensou. O problema não foi Lula tê-lo dito a dias de aterrar em Portugal.

O problema não foi ter dito o que sempre disse.

O problema não foi tê-lo dito na China. O problema não foi Lula vir a Portugal.

O problema é, e sempre foi, acreditar que um homem que não acredita no valor democrático da autodeterminação de um Estado soberano, podia ser convidado para falar na Assembleia da República, no dia em que celebramos a democracia, no aniversário do dia em que concedemos a outros Estados o direito à sua existência sem ingerências forçadas e tropas portuguesas a fazer guerras em terras alheias.

Lula é o sapo que conseguiu lembrar os portugueses que era mais do que o homem que tirou Bolsonaro do poder.

E quem agora tenta atenuar as palavras do Presidente brasileiro põe-se no papel dos que tentavam atenuar as palavras de Bolsonaro.

Agora, com medo que as danças que o Chega anda a fazer no TikTok chegassem à Assembleia da República.

Com receio das reações dos outros partidos.

Com medo que os Ucranianos se fizessem ouvir mais que os gritos das celebrações do 25 da abril, Lula irá entrar no parlamento falar e sair antes da festa começar.

O Presidente do Brasil, a sua visita de Estado, e as relações entre Portugal e o Brasil mereciam uma maior dignidade.

Os brasileiros não merecem os convites feitos, desfeitos e refeitos.

O Presidente do Brasil merece um calendário que não fosse alterado de véspera, e uma visita onde a diplomacia imperasse.

Ignorando o que devia ser ignorado e valorizando o que tem que ser valorizado.

E, claro, negociando as possíveis cedências onde tivessem que ser negociadas.

Mas, para isso, a visita nunca devia acontecer no 25 de abril, e agora já é demasiado tarde.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *