O ÚLTIMO TEXTO
Encerrar uma jornada que tornou-se hábito, não é tarefa fácil.
Tão árdua quanto trazer para os leitores conquistados aos poucos, assuntos de interesse.
Quando do convite para fazer parte de equipe com ases destacados do jornalismo, uma ebulição de ideias.
Muitos textos já prontos na cabeça, precisando somente serem passados para o editor.
Com o tempo, os assuntos foram rareando, e as lembranças da infância, desvanecendo.
Anotações no caderninho, depois de alguns dias, transformadas em inscrições ininteligíveis, indecifráveis, verdadeiros hieróglifos egípcios.
O que fazer quando se descobre não ter mais ideia sobre nada. Será para sempre?
Cansado de esperar combustível inspirador, a memória de como se arranca um dente de leite, pode apontar um rumo.
Amarra-se a ponta de um barbante em volta e a outra na maçaneta.
Fecha-se a porta com força. Sangra, mas abre-se uma janela para o novo dente.
E para muitas outras oportunidades.
Com o último ato, a dolorida tristeza e a nostalgia antecipada de uma derradeira coluna.
Hora de agradecer a atenção dos leitores e deixar um rastro de esperança. O projeto inicial pode ser retomado a qualquer tempo.
Quem sabe, esporadicamente, no mesmo veículo, não se dê o emocionante reencontro com os leitores.
Depois de treze meses, dividindo um dos espaços mais nobres da imprensa com Gregório Duvivier, Manuela Cantuária, Renato Terra, Flávia Boggio e José Simão, o comediante, ator e roteirista Daniel Furlan, confidenciou todos estes sentimentos na abrupta despedida da sua coluna semanal na Folha de São Paulo.
Vai deixar saudades.
(Sem o efeito surpresa, o texto publicado em 20/09/19, pode não trazer o mesmo impacto para os leitores mais antigos. Assim, vai dedicado aos mais novos. Amanhã, estaremos de volta com um novo – e velho – Presidente da República )