O VEREADOR DA TELHA
Quando nenhum candidato atende às expectativas do eleitorado, os sentimentos de frustração e repulsa podem ser carreados para um de protesto.
No final dos anos 50, uma abada que havia sido emprestada ao jardim zoológico, recebeu mais de 100 mil votos e seria a mais votada vereadora na maior cidade do país.
Cacareco foi também a primeira transsexual eleita. Fêmea, todos a tratavam como se macho fosse.
A moda (ainda não a de gênero) pegou e espalhou-se pelo Brasil afora.
Há quem diga que elegeu até cachorro grande em presidencial.
Com esse tipo de votos, por pouco não se construiu uma ponte ligando Natal a Fernando de Noronha.
Na princesinha do agreste, estudantes escolheram Joca, o oleiro.
E investiram na sua candidatura e na forte identificação gráfica da campanha.
Uma telha.
Toda noite, depois das aulas, uma pequena multidão descia as ladeiras com o candidato nos braços e ombros do povo.
Na reta final da disputa, a estratégia de marketing esteve ameaçada.
Não por falta de votos (o ceramista foi eleito e virou edil verboroso), mas por desistência.
Depois que numa passeata das mais animadas, um dedo gaiato foi enfiado orifício a dentro:
– Vôtes! Desse jeito, nem pra senador...
(Publicação original em 21/05/2019)