ONDE FOI PARAR O VALENTE
Para conquistar um assento na janela e alguns minutos de fama, em ambiente com tantos pavões e cobras criadas, são necessários mais que uma montanha de músculos bem malhados.
Ali, os espaços são disputados com gente que chegou à ante-sala do paraíso, depois de serviços reconhecidos e experiência administrativa e parlamentar.
Houve um tempo que era destino quase certo, prêmio para governadores bem avaliados.
A casa dos sábios e dos anciãos notáveis.
Que não se culpe o soberano público eleitor. Ele tem sempre razões, se bem que, às vezes, a própria razão as desconhece.
Ele vota em quem nem sabe o prenome. Nem o sobrenome. Nem o partido. Nem as ideias que defende. Mas o eleitor nunca erra, é o que repete o vulgo.
Velhos políticos sofrem desgastes, preconceitos e bullying. Enjoo das mesmas caras de sempre, acontece.
E viva a nova velha política.
Quem haveria de imaginar que um pouco mais de um ano da posse do acreano-potiguar Eann, estaríamos enfrentando uma pandemia?
Ficou pra trás, esquecida na memória recente, que tudo que precisávamos, à época da eleição, era um tenente e dois bafômetros.
O trânsito em ordem, os bebuns andando de Über e todos os problemas resolvidos.
O estágio seguinte e natural, Styvenson queimou.
O capitão não ofereceu sua bravura para enfrentar os outros malfeitores que praticavam crimes mais agravosos.
O povo não atinou. A imprensa calou.
É da natureza deles.
O osso roído é trocado, quando aparece um novo.
Agora, sem recorrer a assessores, releases nem jabazeiros, Valentim frequenta o noticiário provincial na modalidade 0-800.
Do jeito que ele gosta. De camisa regata e bíceps suados, de quem acaba de fazer trezentas flexões.
Seu primeiro sucesso midiático foi enfrentar o assunto-tabu do nepotismo, para sair bem na fita doméstica.
Deu-se mal junto ao eleitorado familiar e no julgamento das redes sociais.
Sobrou para a coitada da irmã, fiel frequentadora da igreja dos desempregados necessitados e cidadã cumpridora da lei.
O Senador Mendes, bacharel de pouca militância na advocacia, não lembrou que a comunicação de crime não cometido, pode tornar criminoso, o denunciante.
Sua produção parlamentar vai da obrigatoriedade de exames toxicológicos para aporrinhar a vida dos agentes de segurança, à castração química voluntária, para condenados por crimes sexuais.
Quando as lives já estavam meio fora de moda por excesso de oferta e falta de novidades, o destemido parlamentar resolveu se apropriar das prerrogativas da polícia sem farda, e qual experiente perito criminal, esclarecer o episódio do olho roxo da deputada campeã de votos.
“Aquilo ali, das duas uma: ou duas de quinhentos [com mãos à cabeça, fazendo chifres] ou uma carreira muito grande [fungado de cheirador de droga]. Aí ficou doida e pronto… saiu batendo em casa”.
A Polícia Civil do Distrito Federal concluiu, as lesões, possivelmente, foram em decorrência de efeitos de remédio para dormir.
O caso estaria encerrado não fossem as reclamações por danos morais e denúncias ao Conselho de Ética do Senado.
O caso subiu ao STF, junto com o medo de deixar as delícias do chiqueiro e a defesa frouxa:
–Eu me expressei de forma inadequada.
Que saiba Vossa Excelência, sua inadequação, há muito foi percebida.
Concordo de cabo a capitão, mas me diga: Tem alguém no chiqueiro e arredores se expressando de forma adequada?