1 de maio de 2024
Segurança

Para entender a guerra que o RN vive: Sindicato do Crime nos moldes do PCC

De Ricardo Araújo para o Estado de São Paulo 

Ônibus incendiados, prédios públicos depredados, tiros a bases da polícia. O caos que assusta moradores do Rio Grande do Norte já há alguns dias tem um principal suspeito por trás: o Sindicato do Crime (SDC), que comanda as cadeias potiguares.

Criada há dez anos para fazer frente ao domínio do Primeiro Comando da Capital(PCC) nos presídios do Estado, o grupo incorporou métodos da organização paulista e hoje tem no modus operandi episódios recorrentes de violência urbana, como forma de pressionar o poder público.

ADVOGADOS ATUAM NA ORGANIZAÇÃO

O Ministério Público do Rio Grande do Norte investiga se as ordens dos ataques em cerca de 20 cidades partiram de líderes da que estão presos e foram transmitidas pelos advogados da organização (os “gravatas”, no jargão do crime organizado).

Os recados são os “salves”, mensagens disparadas para orientar a atuação de membros das facções.

Segundo o governo, houve endurecimento das medidas de controle no sistema carcerário e agora os detentos reivindicam TVs e visitas íntimas, dentre outras medidas. Por outro lado, prisões potiguares já foram alvo de denúncias de maus tratos contra os internos. Diante dos ataques, a administração penitenciária suspendeu as visitas de familiares e advogados aos presos.

O Ministério da Justiça enviou a Força Nacional ao Estado após pedido da governadora Fátima Bezerra (PT).

Um dos principais suspeitos de ser mandante dos ataques é José Kemps Pereira de Araújo, que estava em uma penitenciária da Grande Natal desde janeiro e foi transferido para um presídio federal nesta terça-feira, 14, sob forte escolta policial.

Ele é considerado um dos fundadores do Sindicato do Crime. Outros dois líderes vinculados ao SDC morreram em confronto com policiais nos últimos dias.

“Por um lado, tem sido aventada a ideia de que uma transferência de presos para outros presídios pode ter desencadeado essas ações. Por outro lado, são elaboradas questões relacionadas a um atrito sobre as condições nos presídios, denunciando as condições insalubres que resistem ali a toda infraestrutura do sistema carcerário do Rio Grande do Norte”, disse a antropóloga Andressa Morais, da Universidade de Brasília (UnB).

Sindicato do Crime replica métodos do PCC

No livro “A Guerra: A Ascensão do PCC e o Mundo do Crime no Brasil”, os pesquisadores Bruno Paes Manso e Camila Nunes Dias descrevem que o Sindicato do Crime foi criado em 2013 a partir de um conflito. “O grupo surgiu para fazer frente ao PCC, que estava nos presídios de Natal desde 2010 e causava atritos ao impor disciplina rígida e cobrança de mensalidade”, diz um dos trechos. Os pagamentos são chamados “cebolas”.

“É imprescindível pontuar desde o princípio que o Sindicato do Crime do RN existe enquanto uma dissidência do Primeiro Comando da Capital, ou melhor, uma resistência a ele. Fundado em 2013 e com o lema principal “o certo pelo certo”, o SDC controla grande parte das unidades prisionais e das quebradas da grande Natal. Apesar de pouco tempo de existência, a facção deixou um legado considerável no que se concerne ao seu domínio territorial e à sua afronta a um comando que existe internacionalmente, que é o PCC”, escreveu a pesquisadora Natália Firmino Amarante, em sua dissertação de Mestrado apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em 2019.

“Fazer parte do Sindicato do Crime não era só ser membro de uma comunidade moral e/ou de uma espécie de empresa ilegal. Significava ter disposição para entrar em uma guerra sangrenta”, escreveram os pesquisadores.

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