3 de maio de 2024
Poesia

PEDAÇOS DO TEMPO

A persistência da memória (1931) – Salvador Dalí i Domènech – Museu de arte Moderna, Nova Iorque


Ao contrário que muitos pensam, não é de 
Carlos Drummond de Andrade o elogio  ao indivíduo genial que dividiu o tempo em fatias.

Atribuido a ele, é dos mais citados poemas na virada do ano

“Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez”

A autoria também é creditada ao  jornalista Roberto Pompeu de Toledo.

E negada.

O gênio de Itabira não fatiou o tempo mas deu uma receita.

   “Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo. Eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.”

Nos próximos dias, entre crenças no milagre da  renovação, e na esperança que daqui para frente tudo vai ser diferente, vamos receber em nossas redes sociais, estas e outras mensagens parecidas

Cem anos antes, o americano Walt Whitman marcava o calendário de maneira diferente.

Para ele, o tempo é o de viver intensamente.

O pai dos versos livres deu um novo sentido ao termo latino, usado  no passado mais remoto por quem não acreditava que tivesse muito mais vida pela frente.

Guerreiros, soldados e combatentes eram aconselhados a aproveitar o dia, viver o momento.     

Carpe Diem.

Eles podiam não se repetir.

Sua fatia do tempo é 365 vezes menor.

A receita, quando fatiada em 12 meses, é parar, fechar pra balanço e corrigir a rota.

Recheada  com os melhores desejos que o novo período, de uma volta da espaçonave Terra em torno do sol, conduza todos no rumo da felicidade.

Medida em horas, o suficiente para um giro do planeta azul no seu próprio eixo, o prazo exíguo não permite se deixar nada pra depois.

                              “Aproveita o dia.                                    Não deixes que termine sem teres crescido um pouco. Não permitas que a vida se passe sem teres vivido”

O ano que já aponta na esquina traz, de batismo, mensagem a ser decifrada.

Com otimismo e o olho da providência, observe a humanidade.

Temos que fazer nossa parte.

O tempo é agora.

O dia é hoje.

O futuro nos pertence.

Sonho causado pelo vôo de uma abelha em torno de uma romã um segundo antes de acordar (1944) – Salvador Dalí – Museu Thyssen-Bornemisza, Madri.


(A essência deste texto foi publicada originalmente em 20/12/19)

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