PESSOAS SEM CÉREBRO
Os quase setentões e todos aqueles que não tiveram em seus currículos escolares, o conteúdo Fundamentos da Teoria de Gêneros, estão enfrentando dificuldades para entender o mundo moderno.
E as pessoas que passaram a habitá-lo nos últimos anos.
Não bastassem a moda, os costumes e tantos produtos unissex, notar diferenças, antes tão evidentes, tornou-se jogo perigoso.
De costas, não se sabe mais quem é o padre; quem é o vaqueiro.
Qualquer falta de atenção é motivo para gafes, saias justas e calças apertadas.
E acusações do crime hediondo, de discriminação sexual.
Ouvidos acostumados a separar as ondas com frequências graves das agudas, agora precisam de treinamento para detecção dos falsetes, já nas primeiras palavras de um diálogo coloquial.
A análise crítica do que é original e o que foi enxertado é também necessária.
Desconfie-se das comissões de frente que fazem todas clones de Jayne Mansfield, nutridas à base de leite tipo A.
Um discreto desvio do olhar, para a região cervical da interlocutora, pode ser de boa valia.
É ainda grande o percentual do(a)s que não conseguem disfarçar aquele pontiagudo acidente anatômico que só não resiste aos elegantes echarpes que caem bem nas noites frias nas serras semi-áridas do agreste e sertão.
Mas atenção.
Os pomos salientes estão com as noites contadas.
Os cirurgiões estéticos e os shavings das proeminências laríngeas têm amenizado o problema.
As avançadas técnicas de feminilização facial completam o serviço.
O profeta Stanislaw Ponte Preta já clamava, nas areias desertas de Ipanema, que o então chamado terceiro sexo estava próximo de tomar o lugar do segundo.
Agora não se sabe se ainda existe um primeiro, e se pertence aos filhos de Adão.
Lalau só não conseguiu prever que a colocação seria disputada por tantos, tantas e tantes, com suas complicadas denominações e arco-coloridas siglas.
Originais, congênitas, adquiridas e adaptadas não têm se entendido, sobrando para quem sempre soube o que era pedra e qual pau era pau de verdade.
É de bom alvitre e juízo aprumado que se acostume logo a não jogá-las no mesmo balaio de gatas.
Pelo que se tem visto, as aparências continuam a enganar desligados e incautos.
Esta incógnita só será bem resolvida se a igualdade resultar de uma complexa equação sexual.
Quem parece, não é e não quer ser chamada do que faz tanto sacrifício para parecer.
Tudo que exigem agora, é serem conhecidas simplesmente como pessoas.
Um golpe mortal no machismo e na misoginia.
A genética mendeliana já garantia a elas, de nascença, uma pequena vantagem numérica.
Agora com a adesão voluntária da multidão que sofre a mutação fenotípica artificial, alcançaram maioria inconteste.
Aos que já perderam a guerra dos sexos, resta obediência e honras às vencedoras.
Fica a dúvida.
Se uma certinha boazuda deve ser tratada como uma pessoazona com vagina ou uma pessoa com um vaginão.
O melhor, é organizar logo o MPSV.
Movimento das Pessoas Sem Vagina.
Andrógino – Ismael Nery (1900-1934)
Tudo nos conformes como manda o bom gosto.