7 de maio de 2024
Política

POR QUE TORCI PARA QUE BOLSONARO RENUNCIASSE

 

Entrada do Rei Gustav Vasa em Estocolmo em 1523 (1908) – Carl Larsson – Museu Nacional de Estocolmo, Suécia


O sacrifício humano, celebração de antigas religiões, ainda resiste em práticas criminosas de seitas fanáticas mais modernas

Repete-se ao longo da História por atribuição aos imolados, a solução de problemas transcendentes  às forças terrenas, forjando nos altares sagrados, legiões de santos e heróis.

Na maior crise sanitária de todas, todos tiveram de  contribuir com os próprios martírios, no enfrentamento do mal desconhecido.

A Ciência procurou a cura, a prevenção e o tratamento.

A recorreu  ao divino.

O Poder constituído, seguindo orientação do conhecimento consolidado, interferiu no comportamento coletivo.

Quem tinha mais responsabilidades por escolha popular, começou a ser julgado por atos, omissões e exemplo.

Alguns, no curso da pandemia repensaram a percepção da doença. Fizeram mea culpa e seguiram seus destinos.

O primeiro-ministro cumpriu em regime fechado em UTI, severa pena por desdenhar da mazela no reino inglês, conseguiu desembarcar em praia nunca mais tranquila, onde renunciou pouco tempo depois.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, acusado de negligência no início da propagação da moléstia, foi reeleito e continua no comando das ações em escala global.

Vencido pelas evidências e pelas urnas, chefe de estado mais poderoso exerceu o  jus esperniandi na fixação de fraude eleitoral.

Tese que não abandonou, nem depois da mancha indelével que deixou na mais invejada democracia do mundo, e que poderá reconduzí-lo ao cargo, digamos, surrupiado.

Houve quem externasse o desejo, em forma de torcida, para que o vírus aplicasse  pena capital ao então Presidente Bolsonaro.

Passaram-se três anos e sete meses da funesta aspiração do articulista.

O Supremo Tribunal Federal não  instaurou o competente inquérito  de ofício para apurar se o agourento artigo poderia ser considerado criminoso.

O jornalão não afastou o autor da bizarra ameaça, tão velada quanto secreta.

Consequencialismo à parte, as ações do presidente não mudaram os rumos da pandemia, fato constatado depois que a vacina comprovou não  corresponder às expectativas, de proteção  total contra a contaminação, e erradicação da virose, para sempre.

A  enfermidade presidencial foi branda.

Sua convalescença, curta.

A  renúncia,  elucubração do aprendiz de cronista, transformou-se em augúrio da mais violenta de todas as disputas eleitorais.

Se o de ontem  tivesse renunciado, não teríamos hoje um presidente afastado do povo,  em infindável lua de mel, somente com sua Rosângela.

 

Sacrifício do Solstício de Inverno (1915) – Carl Larsson – Museu Nacional de Estocolmo, Suécia                                  *** O semilegendário Rei Domaldi sendo sacrificado para apaziguar os deuses e assim terminar com o ciclo das más colheitas.

(Texto baseado em publicação de 13/07/2022)

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