Posse histórica de Alexandre Moraes defende Democracia, urnas eletrônicas e repudia fake news
Por Maria Cristina Fernandes no Valor
Pelo discurso e, principalmente, pela composição da plateia, a cerimônia de posse do ministro Alexandre de Moraes foi a mais retumbante demonstração de repúdio institucional às ameaças à democracia feitas pelo presidente Jair Bolsonaro.
Só as posses presidenciais concorrem em prestígio com uma cerimônia que reuniu os presidentes de Poderes, 22 governadores, quatro ex-presidentes da República e dezenas de embaixadores — muito mais numerosos do que aqueles que obedeceram constrangidos à convocação para o festival de agressões contra o sistema eleitoral brasileiro promovido pelo presidente Jair Bolsonaro em julho.
A concorrência com as posses presidenciais não é fortuita. A força demonstrada pelo ministro Alexandre de Moraes se destina a garantir que o próximo presidente seja eleito pelo voto livre e soberano e assim tome posse.
As conversas ao pé de ouvido com o presidente sentado ao seu lado não distraíram Moraes. No primeiro minuto, disse a que viera:
“Temos a única Justiça Eleitoral do mundo que apura e divulga o resultado eleitoral no mesmo dia e isto é motivo de orgulho”.
Como parte da plateia só tinha ido ali para aplaudir de pé o novo chefe da Justiça Eleitoral, ali começou o ensaio.
E a excelência da Justiça Eleitoral estava à prova, disse, para dar continuidade ao mais longevo período da democracia brasileira. A partir daí, Moraes costurou, com a citação de cada autoridade presente e dos integrantes da Justiça Eleitoral, dos sete ministros aos mais de dois milhões de mesários, o respaldo que ali se presenciava.
“Se somarmos os votos dados em primeiro e segundo ao presidente da República e aos governadores presentes, temos mais de 180 milhões de votos”, disse. Foi este o exército que convocou com seu discurso.
Desconstruiu, um por um, todos os ataques feitos por Bolsonaro. Não sem antes valorizar a preocupação, cara ao discurso bolsonarista, com a liberdade de expressão:
“Liberdade de expressão não é liberdade de agressão”.
Mostrou disposição implacável contra o discurso de ódio, contra os ataques à honra e contra as “fake news” propagadas pelas redes sociais: “Democracia não é um caminho fácil, mas é o único”.
No plano de vôo que traçou, Moraes cotejou as “soberania e sabedoria populares” e constatou que, se todos ali são passageiros da turbulenta conjuntura nacional, é a permanência das instituições que carrega o futuro do Brasil.
Por mais de uma vez, invocou o presidente da República, como se o convidasse para se unir a todos ali nos propósitos enunciados
– “É tempo de união”.
Os aplausos demorados que recebeu demonstram que, se Bolsonaro não aceitar o convite, será o único perdedor.
Professor da Faculdade de Direito do Largo de S.Francisco, Moraes deu a resposta, no formato institucional, à representatividade social do ato promovido por aquela instituição na semana passada.
Naquele dia, a sociedade falou. Na noite desta terça feira, as instituições mostraram tê-la escutado. Se Bolsonaro ainda pretende promover um show de horrores no 7 de Setembro, Moraes antecipou para hoje a independência da democracia brasileira dos seus achaques.