2 de maio de 2024
Opinião

Quando falta a conversa a política só cresce pra baixo

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Cassiano Arruda Câmara – Tribuna do Norte – 101121

Cientistas políticos à parte (com todo respeito), preferimos o estudo de quem é profissional do ramo e vive a atividade 24 horas do dia, todos os dias: Política é conversa.

É o que menos está acontecendo no nosso Rio Grande do Norte nesses tempos sombrios, em que “bezerro não está conhecendo vaca” (nas palavras do cacique Vitorino Freire que reinou no Maranhão até os anos 60 quando surgiu o jovem José Sarney) é justamente conversa. Conversa ampla, sem divulgação prévia, nem cobertura dos meios de comunicação.

Um claro sinal da carência de lideranças verdadeiras. Quando existe uma liderança de verdade, esta não precisa de mandato, ou cargo público, ou mesmo partido político legalmente constituído para fazer política.

Mesmo quando os adversários se tratavam como inimigos, não faltou conversa no nosso RN – quando necessária…

E nunca faltou uma boa justificativa para explicar a conversa e suas consequências. Quantas vezes esse tipo de encontro, por mais inesperado, foi justificado e aceito?

UM LÍDER NOMEADO

Nos anos 70, num Estado ainda dividido entre “aluizistas” e “dinartistas” (de Aluízio Alves e Dinarte Mariz, líderes verdadeiros), os coronéis do IV Exército, com o Comando em Recife e abrangência por todo o Nordeste, coronéis de Estado Maior, a maioria deles nordestinos, tiveram um papel de relevo na escolha dos governadores em 1970.

Para o RN escolheram o talentoso advogado, e professor de Direito, além de ter sido Deputado Estadual e atuado no Senado como suplente de Dinarte, assumindo o mandato em algumas temporadas: José Cortez Pereira, então diretor do Banco do Nordeste.

Cortez foi escolhido Governador e simultaneamente “nomeado” Líder do Estado, com a missão de sepultar as velhas lideranças. Culto, estudioso e preparado, mas acreditou nessa história de nomeação para líder. E esborrachou-se.

Tanto que, ao terminar o seu mandato, não tinha um candidato para sucedê-lo. Tolerou uma disputa interna de seis nomes, selecionados pelo senador Petrônio Portela, Presidente da ARENA, o partido do Governo.

Os seis se encarregaram de se destruir. Um denunciando o outro. Como se política fosse movida a denúncias ao aparelho de espionagem do governo.

POLÍTICA NO AI-5

Uma solução clássica, quanto desavenças inviabilizam uma disputa interna, é buscar um “tertius”. O general Golbery do Couto e Silva, tido como bruxo do regime, inventou um “septimo”: Tarcísio Maia, médico, que fez carreira em Mossoró, foi Secretário da Educação no Governo Dinarte Mariz e elegeu-se Deputado Federal, mas estava afastado do RN; há dez anos, morando no Rio de Janeiro.

A estreia eleitoral de Tarcísio foi um fracasso. Esperando o referendo do voto popular na eleição (direta) de Senador para sua escolha, ele assistiu a derrota do seu candidato, o consagrado Djalma Marinho, com a vitória do feirante Agenor Maria do MDB, parcela de uma onda que varreu 18 Estados no Brasil todo, que votaram contra a expectativa de volta da inflação, frustrando o “milagre brasileiro”.

Muitos fizeram a leitura de que os eleitores haviam expressado a reprovação a forma de escolha de Tarcísio Maia, inclusive ele próprio, que nunca externou esse seu pensamento a ninguém.

E resolveu, então, fazer política.

TODOS PELA PAZ

Tarcísio compreendeu que seus inimigos estavam em casa, e que a grande liderança a conquistar era um político que estava proscrito: Aluízio Alves cassado pelo governo militar, juntamente com dois irmãos, único caso de punição a toda uma família nos diferentes listões dos militares.

Cassado, Aluízio assumiu o MDB (que se dizia, então, caber dentro de um fusca) representado pelo filho Henrique Eduardo, eleito Deputado Federal, e pelo sobrinho, Garibaldi Filho, Deputado Estadual. Além de um grupo de jovens que nunca tinham disputado uma eleição (Iberê Ferreira de Souza, Antônio Câmara e Magnus Kelly, entre outros).

Aluízio passou a atuar no mundo empresarial como vice-presidente-executivo da UEB, que construia quatro fábricas em São Gonçalo do Amarante (Fiação, Tecelagem/Tinturaria, Confecções e Cartonagem). Na prática ele realizava a integração vertical do têxtil, do algodão (algodão Seridó, “o melhor do mundo”) a roupa-feita, um centenário sonho potiguar.

Aluízio voltou a frequentar o Palácio Potengí para tratar de “assuntos UEB”. – Na verdade, costurava com Tarcísio a Paz Pública.

A PAZ DE TODOS

Jessé Freire personificou a Paz Pública. Presidente da Confederação Nacional do Comércio, um nome nacional, tido como antipático, tinha tudo para repetir Djalma Marinho, depois de quatro anos.

Com o apoio de Aluízio e a má vontade de Dinarte Mariz (já “eleito Senador biônico – por um colégio eleitoral), o pragmatismo de Jessé o levou a uma grande vitória eleitoral, contrariando as expectativas gerais. E Tarcísio fez seu primo (e Secretário da Saúde) Lavoisier Maia, seu sucessor.

E agora, quando praticamente não existem partidos, qual a conversa de futuro?

A única tentativa de peso foi do ex-presidente Lula que tentou atrair Garibaldi Filho para Senador na chapa de Fátima Bezerra. Mas Garibaldi delegou a conversa ao filho, Waltinho, Presidente – formal – do MDB, onde sofre o descrédito de velhos companheiros do pai que registram seu esforço para fazer o partido menor, um partido que cabia num fusca (quando Aluízio o assumiu), para caber, agora, todos em cima de uma lambreta.

– Resumo da ópera: Tá faltando conversa.

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