7 de maio de 2024
Opinião

Quatro semanas para salve-se quem puder

 

Roda Viva – Tribuna do Norte – 07/09/22

Faltando quatro semanas para a eleição, hoje, no dia em que o Brasil completa 200 anos de sua Independência, a melhor definição dada ao pleito eleitoral foi de um calejado político do Interior potiguar, com 50 anos de estrada:

– Essa é a eleição do salve-se quem puder.

Justifica de maneira absolutamente clara que pode ser comprovada por qualquer observador que se disponha a acompanhar um só dia desta campanha atípica;

“Eu nunca tinha visto uma eleição sem solidariedade, nem mesmo entre os ocupantes de um mesmo palanque. Só existindo uma exceção. Solidários, só os candidatos a Vice Governador (e a suplente de Senador), assim mesmo porque só receberão o voto que for dado em nome do companheiro de chapa.”

Mesmo artificiais, o nosso arremedo de partido político, pelo menos oferecia um mínimo de identificação programática, ideológica e de convivência entre seus integrantes, ao contrário do quadro atual, marcado pelo despudor de quem se apresenta para receber o voto popular, a partir de suas próprias conveniências, só. Sem mais explicações.

 

A FALTA DOS PARTIDOS

 

É a falta que os partidos fazem, por raros que sejam os exemplos dos verdadeiros, de 1930 até agora.

Além de partidos, faltam líderes, sobretudo para o pleito de Governador do Estado e até o Presidente da República, com o exemplo vindo do próprio Chefe da Nação, para quem partido político deve ser que nem motel, de alta rotatividade, usa-se e vai embora.

Foi a falta de partidos políticos que facilitou a despudorada mudança de candidatos que não resistem a uma rápida consulta ao Google sobre a última eleição, com o pensamento de alguns aliados de hoje sobre os seus atuais parceiros nos idos de 2018.

Nesse particular a governadora Fátima Bezerra deu uma verdadeira aula de pragmatismo político, atraindo (como aval do ex-presidente Lula) os seus principais adversários, e dando a eles duas vagas na chapa majoritária do PT, que abominava esse tipo de conchavo e tinha no combate às oligarquias um ponto de honra: Carlos Eduardo teoricamente seu candidato a Senador, a Walter Alves, seu Vice, filho do velho ”inimigo” Garibaldi Alves, e presidente do MDB, transformado em legenda de Pai & Filho.

 

O QUADRO POTIGUAR

 

No caso presente, existem dois exemplos capazes de personificar a peculiar situação política do RN.

A já referida Fátima, candidata à reeleição, e o seu principal opositor nas urnas, segundo as pesquisas, o senador Styvenson Valentim.

Nas pesquisas preliminares, antes da definição do quadro, a governadora Fátima Bezerra parecia ter uma campanha difícil, mesmo sem ter enfrentado uma oposição de verdade nesses três anos e meio, carente de melhor avaliação do seu governo, e de apoios fora do PT. Enquanto conversava com todos. No fim, optou por adversários, e quem ficou na chamada oposição, nem ai conseguiu se organizar, ficando mendigando por um candidato, depois que o ministro Fábio Faria decidiu não se candidatar.

O exemplo pronto e acabado de um candidato sem Partido é o senador Styvenson, um capitão da PM que sem nunca ter se dedicado à política, conquistou uma cadeira de Senador da República. E para definir sua atual candidatura ouviu uma única pessoa: Sua Mãe. Filiado ao Podemos, dispensou o tempo da propaganda gratuita no rádio e TV, não tem participado de comícios limitando-se a dar entrevistas, quando procurado. Assim mesmo vem se mantendo em segundo lugar nas pesquisas, com menos da metade da intenção de votos da primeira colocada.

 

CADA UM POR SI

Mesmo a disputa presidencial, polarizada como nunca, e invocada como argumento para atrair o eleitor por alguns candidatos, não consegue impor comportamento substantivo dos partidários locais.

Buscando identificar os candidatos mais parecidos com seus candidatos a Presidente, dificilmente se terá alguém mais comprometido com Lula do que Fátima, ou de Rogério Marinho com o capitão Bolsonaro. Assim mesmo uma corrente que vem crescendo é a chapa “Farinho”, com Fátima para o Governo e Rogério Marinho para o Senado, com total liberação dos votos para Presidente e Deputados Federal e Estadual cravado o voto de Senador. Na cidade de Macaíba, região metropolitana da capital, o prefeito Emídio Junior numa mesma semana recebeu Fátima e Rogério, em dias alternados, saudados por uma música que proclama os dois como os candidatos do chefe da edilidade.

Marinho, no Ministério do Desenvolvimento Regional, construiu uma formidável estrutura de 130 Prefeitos, comprometidos só com ele e liderados dos outros votos.

 

QUATRO SEMANAS

 

É preciso entender o que dizem – com muita propriedade – os políticos das Minas Gerais: eleição, que nem mineração, só se sabe do resultado depois da apuração. Em outras palavras: não existe nada definido.

Temos ainda quatro semanas, quando pode acontecer de tudo, ou, inclusive, nada. Em termos eleitorais é tempo suficiente para muitas das atuais posições sejam mudadas, até porque as pesquisas dizem que o número dos que não escolheram seus candidatos é muito maior do que os que já escolheram.

Nesta eleição – a eleição do salve-se quem puder – embora a maior disputa esteja concentrada na escolha do Senador, com três nomes tendo chances reais de vitória, e as eleições proporcionais (deputado federal e deputado estadual) ainda parecem ter o resultado pouco nítido para o grande público que ainda raciocina com base na realidade das antigas legendas partidárias.

Felizmente a expectativa geral é que a democracia seja exercida em sua plenitude e a vontade do povo, expressa nas urnas, será respeitada.

 

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