2 de maio de 2024
Política

QUEM NOS REPRESENTA

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Parlamento devolvido (2009) – Bransky – Coleção particular


Há pouco mais de um ano, na aparente calmaria depois do primeiro
tsunami pandêmico, entre os afazeres no rescaldo, era tempo de conhecer os novos vereadores da capital

Nas intermináveis meia dúzia de horas da apuração eletrônica, a mais expedita em todo o mundo, a suspeita de invasão hacker.

O boato classificado de fakenews, teve um fundo de verdade.

O sistema de apuração do STE precisou ser defendido em rede nacional,  pelo presidente da corte,  reafirmando a independência da internet, a imunidade a interferências externas e a lisura das operações.

Quando saiu a relação dos vereadores eleitos, a constatação que muitos eram desconhecidos, foi a comprovação que o resultado era uma selfie do voto popular.

Não tardaram as inevitáveis comparações com os antigos edis de notável saber jurídico e figurinhas carimbadas do noticiário político e crônica social.

Nas redes de arengas sociais, incontáveis comentários sobre a falta de representatividade dos ilustres desconhecidos.

Os cara-pálidas nunca  se interessaram por outros clãs de tribos, menos glamurosos, que habitam nossos territórios mais inóspitos.

Dissimularam preconceitos contra quem poderia  trazer para a casa de debates da cidade quase metrópole, o pensar dos mais variados segmentos da sociedade.

Não levavam em conta, uma das virtudes do pluripartidarismo. Oportunidade facilitada a quem quiser entrar na política.

Não faz muito tempo, nossos periódicos reservavam para as edições que se seguiam as convenções partidárias, amplos espaços  para as lamúrias dos excluídos.

Eram muitos os excedentes das nominatas de um punhado de partidos, sem contar os longos anos, com apenas dois, e suas sublegendas.

Pessoas que os caciques dos partidos não viam capazes de angariar votos ou atrapalhavam os redutos dos aboletados no poder, encontram agora, lugar na comitiva.

A multiplicação das legendas, algumas delas,  sem feitores, tem dado chance a quem se dispõe a gastar saliva e sola de sapato, na transformação de amizade, parentesco, compadrio e trabalho voluntário, em voto.

Nem a promoção dos velhos cabos eleitorais a lideranças; nem as eleições de conselheiros tutelares e comunitários, foram suficientes para evitar que perto de mil natalenses desejassem disputar uma das 29 cadeiras no parlamento municipal.

As urnas resistiram  aos  ataques dos terroristas digitais, e mostraram as peças, que arrumadas em mosaico, formam o assoalho por onde os cidadãos vão caminhar por quatro anos.

Na renovação da metade da composição, e tantos  novatos estreantes, vislumbravam-se marcas da mudança.

Já fugia da memória, a falta em plenário, de representantes de algumas profissões puxadoras de votos.

Nenhum médico; nenhum dentista.

Sem locutores de rádio; sem comunicadores sociais.

Ausentes,  os epítetos que revelaram as ocupações dos zés-da-padaria ou a origem das fafás-de-igapó.

Uma bancada desprovida dos militares que daquela vez, buscavam patentes mais altas.

Na última vaga, um professor universitário em vez da professorinha primária, de primeiríssimo lugar.

Carnaúba dos Dantas chegou na frente.

Não foi nesta legislatura que  a casa das sete mulheres  abrigou pessoas transgêneras.

O perfil foi jovem e conservador.

As novidades dos mandatos coletivos, acontecências de  alhures, ficaram para as próximas vezes.

Com a não renovação dos mandatos dos mais extremados, desenhava-se um grupo mais centrado.

Sem destemperos, despautérios ou sopapos.

Previsíveis, a tranquila maioria  que sempre se renova da bancada do prefeito e a preservação a quem se queixar.

O bispo foi reeleito.

Um ano depois, os grandes temas continuam em pauta: licitação dos transportes coletivos e plano diretor, a serem resolvidos no futuro que nos pertence.

Para não dizer que nada mudou, na leva de novos condecorados com as medalhas de mérito legislativo e títulos de cidadania, nenhum ex-médico estuprador foi agraciado.

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‘Devolved Parliament’, também conhecida como ‘Parlamento de Chimpanzés’, obra de Bransky, o pintor secreto de Bristol, foi arrematada por comprador também anônimo, em 2019, por 48 milhões de reais.

 

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