6 de maio de 2024
Memória

QUEM SE LEMBRA? O CORONAVÍRUS ACABOU NO CABARÉ

Olympia (1863) – Édouard Manet – Museu d’Orsay, Paris


Com as atenções concentradas em único assunto, começavam a circular as estórias do que vinha acontecendo ou poderia vir a acontecer,
  na primeira pandemia de  pavor, em escala mundial.

O que nunca antes, neste país, nem na guerra, nem nas ameaças de bomba atômica, provocou tanto medo.                    

Ainda  há muito o que contar.

Do que se fez, viu, leu ou imaginou, antes do primeiro lockdown, a mais genial criação (depois das vacinas que não imunizam) na maior crise sanitária desde a da gripe espanhola em 1918.

Dos primeiros paramentados para cirurgia, na fila da padaria.

Ou lembrar a  razoável desculpa da  tia-avó para justificar a ausência da festa de aniversário.                  

A  invejada acabara de chegar da Itália.

Da Toscana. Para ser mais enolicamente correta.

Com a dificuldade de serem encontrados os equipamentos de proteção, já se pensava em avisar  os convidados, que presentes estavam dispensados.       

Aceitos, de bom grado, máscaras cirúrgicas. E álcool gel.

Ou para sugestão de novos trajes, mais seguros que o esporte fino.
Avental, gorro, propés e máscara.               Descartáveis.

A notícia mais curiosa e excitante veio de Valência e andou meio mundo, nos blogs de curiosidades.                          

Dominou por um tempo as redes sociais, viralizando geral.                                             

Ao ponto de jornais e TVs mais sérios passassem a acompanhar o caso.

Quem não iria se interessar pelo drama de 86 clientes de um bordel, de incrível nome, La Floresta Negra (o mesmo da mais famosa sobremesa da costa mediterrânea), em quarentena depois que uma das mocinhas semi-internas foi testada positiva para o coronavírus.

A matéria também computa os 33 funcionários do estabelecimento de lazer. Gerentes, garçons, DJ, camareiras, leões de chácara.

A imaginação voou livre. Alguns pensaram logo, não haver melhor lugar e companhias, para férias compulsórias, na base do 0-800.

De 14 dias, apenas.

Outros, se tivessem a ventura, mesmo sem  nenhuma saudade do trabalho, cuidariam de organizar todas as atividades, incluídas as sexuais, em planilhas de Excel.

O relato só começou a dar sinais de inconsistência veraz ao contar que a esposa de um dos desaparecidos,  conseguiu furar o bloqueio policial. E foi impedida de sair.

Ficou a dúvida, se houve adaptação da madame ao ambiente de luzes vermelhas, ou se a Dona Encrenca armou arranca rabo lá dentro.

Só os mais ingênuos acreditaram que um drone tenha sido usado para introduzir no puticlub,  preservativos de variados sabores.

Caso os isolados resolvessem continuar o jogo  que foram disputar na Arena do Amor Sincero.

Que futebol que nada.

Chingar.

*Insultar, sem X , na língua de Cervantes, é muito mais que mais um impropério.

O mesmo que hoje desejam para ministros das cortes, os patriotas que não tiveram coragem de posar com o ex, na Paulista, no dia 25 de fevereiro.

A mentira de calças curtas só ganhou status de fakenews porque os mesmos sites que a divulgaram, tiveram de admitir que tudo não passava de bulo.  Farsa.

Difícil é acreditar que alguém levou a sério outra manchete que se verdadeira, deixaria cabelos em pé.                            

E a cosita, caidaça.

Una mujer se contagia de Coronavirus con un Satisfayer comprado en Aliexpress.”

Le déjeuner sur l’herbe / Almoço na grama (1863) – Édouard Manet – Museu d’Orsay, Paris


Texto baseado em notícias reais, de falsas,  publicadas em fevereiro  de 2020

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