6 de maio de 2024
CoronavírusPolítica

RETROVISOR MACABRO

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Auto-retrato com o Dr. Arrieta (1820) – Goya – Minneapolis Institute of Arts.


Iluminada pelo avanço da vacinação, a estrada não
deixa de ser longa. E perigosa.

Os que chegaram até aqui, por cautela ou sorte,  devem olhar o passado para não repetir erros na jornada que ainda está muito longe de acabar.

A pandemia não só dizimou mais de 500 mil vidas, como tem deixado entre os sobreviventes, um número ainda não contado de mutilados,  precisando de reabilitação.

Outros tantos, durante muito tempo irão demandar cuidados médicos para doenças cronificadas a partir da infecção vencida.

A vacina não é o fim da tormenta.

Dela não se tem certeza, da abrangência da proteção nem do tempo até ser renovada.

Mesmo que em alguns meses a contaminação esteja sob controle, teremos que lidar com uma endemia de sequelados.

As mesmas pessoas e instituições que condenam a demora na encomenda dos imunizantes, não atentaram ainda que os recuperados estão precisando de cuidados específicos e o serviço público não está preparado para atendê-los.

Tão escandalosa quanto a soma dos mortos, é o número, ainda representado somente em percentuais, que metade dos que estiveram entubados em leitos de UTI por mais de uma semana, estarão mortos em até seis meses.

As síndromes pós-covid, ainda não devidamente estabelecidas, estão causando outras perdas.

Agora, muito mais clara e definitivamente evitáveis.

Com mais de dois meses de instalada, a comissão parlamentar de inquérito do Senado, além de ter servido para dividir mais ainda a nação, em momento que pedia a união de todos,  já provou, por trágica e cruel ironia, que foi precoce.

Os evidentes fins eleitorais, justificam o teatro armado mas é parvo, insistir na  procura do culpado, se pelo que é acusado, todos  sabem, o réu ausente é confesso.

Em discursos, entrevistas, lives, atos e omissões.

Da mesma forma que não tem alguns poderes, como de convocar para ouvir as acusações ao vivo, o senhor presidente da república, os senadores não têm competência para dizer o que é e deixa de ser Ciência.

Os cientistas continuam observando, tentando, testando, avaliando, discutindo, corrigindo e se contrapondo, pois sabem que na Medicina não há verdades absolutas nem definitivas.

Delegar a uma emissora de televisão, por mais audiência que tenha, a decisão pela eficácia dos medicamentos, é negar qualquer valor ao trabalho arriscado dos profissionais que sempre estiveram na linha de frente.

Ainda é tempo de se evitar um efeito colateral desta tragédia que pode trazer prejuízos incalculáveis, igualmente danosos à sociedade.

A quem interessa o descrédito dos médicos?

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Quarto do Hospital em Arles. (1889) – Vincent Van Gogh -Museu Sammlung Oskar, Suíça.

 

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