REVENDO OS AMIGOS DA PRAÇA
Sem dinheiro em caixa a opção era a praça, ver se encontrava algum amigo.
O provérbio reza que vale mais.
No Recife para as efemérides alusivas ao natalício do caçula, o relógio biológico bateu o carrilhão, sem atraso.
A caminhada matinal era convidativa.
O lugar, bem frequentado. Aparentemente seguro.
De calçadas largas. E limpas.
Até do cocô das Fifis.
Faltava alguma coisa.
Ou alguém.
Pra conversar.
Pra ouvir.
Antes das seis, as conexões cerebrais da área de Broca estão a mil.
Efeito remanescente da água de chocalho bebida na primeira infância.
Ainda na Estrada Real do Poço, caminho que levava dos balneários do Capibaribe aos engenhos da casa forte, o ritmo desacelerado, para bisbilhotar o que se falava num grupo em movimento.
Quatro ou cinco pessoas com pelo menos uma década (vá lá, meia) à frente das contadas pelo curioso.
Só deu pra saber a profissão e a condição financeira do apressado falante.
Bastou ouvir apenas duas palavras: filtração glomerular.
Fisgadas da explicação de alguma doença, nenhuma dúvida que tratava-se de um médico.
Aposentado, muito óbvio.
Nefrologista.
Deve ter filhos.
E genros.
E noras.
Todos da mesma especialidade, Dr. Livingstone presumiria.
(Nem só os políticos são nepotistas).
Sócios de máquinas que dializam, moem e tilintam.
Aposentadoria mais doce, nem Rogério Marinho conseguia azedar.
O ambiente geopolítico precisava também ser explorado.
E foi.
Com mais evidências que as esperadas.
A cidade é bem definida politicamente.
E o bairro, fundado por senhores de engenho e ocupado pelazelites?
Se a praça adota a mão inglesa, o engenheiro do caldo de cana tirou qualquer dúvida.
O que disse para o porteiro do edifício em frente, o forasteiro ouviu.
Que um tal juiz é o que o deputado Glauber Braga afirmou que aquele outro era.
No rápido entreouvido, não deu pra saber se o Santa foi garfado.
Ou se teria sido o Xport.
Na saída, a praça também é gauche .
No gradil da mansão elegante e bem conservada, a faixa com letras garrafais na fonte Pitú 51, pede liberdade.
Nem em tese.
Nem ampla.
Nem irrestrita.
Somente para ele.
E anuncia que ali funciona um comitê de Luta livre.
Recife merece visitas mais amiúde.
Mesmo que seja só para auscultar o coração do Nordeste.
***
O texto publicado há quatro anos merece dissecção dos personagens citados:
O deputado não reeleito Rogério Marinho, da reforma trabalhista, é o senador da transposição das águas.
O ex-juiz Sérgio Moro também é senador, mas pode perder o mandato.
O deputado Glauber Braga continua onde sempre esteve, no PSOL, bem à esquerda.
Lula está livre, babaca!