3 de maio de 2024
MemóriaPolítica

REVENDO OS AMIGOS DA PRAÇA

Mulher sentada num banco da praça (1874) – Claude Monet – Galeria Nacional, Londres


Sem dinheiro em caixa a opção era a praça, ver se encontrava algum amigo.                              

O provérbio reza que vale mais.

No Recife  para as efemérides  alusivas ao natalício do caçula, o relógio biológico bateu o carrilhão, sem atraso.

A caminhada matinal era convidativa.

O lugar, bem frequentado. Aparentemente seguro.

De calçadas largas. E limpas.

Até do cocô das Fifis.

Faltava alguma coisa.           

Ou alguém.

Pra conversar.                         

Pra ouvir.                               

Antes das seis, as conexões cerebrais da área de Broca estão a mil.                           

Efeito remanescente da água de chocalho bebida na primeira infância.

Ainda na Estrada Real do Poço, caminho que levava dos balneários do Capibaribe aos engenhos da casa forte, o ritmo desacelerado, para bisbilhotar o que se falava num grupo em movimento.

Quatro ou cinco pessoas com pelo menos uma década (vá lá, meia) à frente das contadas pelo curioso.                                          

Só deu pra saber a profissão e a condição financeira do apressado falante.                    

Bastou ouvir apenas duas palavras: filtração glomerular.

Fisgadas da explicação de alguma doença, nenhuma  dúvida que tratava-se de um  médico.                    

Aposentado, muito óbvio.

Nefrologista.                         

Deve ter filhos.

E genros.

E noras.                                    

Todos da mesma especialidade, Dr. Livingstone presumiria.

(Nem só os políticos são nepotistas).            

Sócios de  máquinas que dializam, moem e tilintam.                 

Aposentadoria mais doce,  nem Rogério Marinho conseguia azedar.

O ambiente geopolítico precisava também ser explorado.                                     

E foi.                                          

Com mais evidências que as esperadas.

A cidade é bem definida politicamente.                             

E o bairro, fundado por senhores de engenho e ocupado pelazelites?

Se a praça adota a mão inglesa, o engenheiro do caldo de cana tirou qualquer dúvida.                                          

O que disse para o porteiro do edifício em frente, o forasteiro ouviu.                      

Que um tal juiz é o que o deputado Glauber Braga afirmou que aquele outro era.   

No rápido entreouvido, não deu pra saber se o Santa foi garfado.                                

Ou se teria sido o Xport.

Na saída, a praça também é gauche .

No gradil da mansão elegante e bem conservada, a faixa com letras garrafais na fonte Pitú 51,  pede liberdade.

Nem em tese.

Nem ampla.

Nem irrestrita.                

Somente para ele.                    

E anuncia que ali funciona um comitê de Luta livre.

Recife merece visitas mais amiúde.

Mesmo que seja só para auscultar o coração do Nordeste.

***

O texto publicado há quatro anos merece dissecção dos personagens citados:

O deputado não reeleito Rogério Marinho, da reforma trabalhista, é o senador da transposição das águas.

O ex-juiz Sérgio Moro também é senador, mas pode perder o mandato.

O deputado Glauber  Braga continua onde sempre esteve, no PSOL, bem à esquerda.

Lula está livre, babaca!

Na Margem do Sena, Bennecourt (1868) – Claude Monet – Instituto de Arte de Chicago

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