9 de maio de 2024
Memória

VIDAS VELHAS IMPORTAM

Igor Shulman, pintor russo radicado em Praga


Às vésperas do aniversário de número 71, uma pulseira roxa no pulso despertou no paciente a caminho da cirurgia de altas complexidade e tecnologia,  sentimentos e reflexões de dois anos atrás.

A pandemia nem havia atingido o pico da primeira onda e já se sabia  quem eram suas maiores vítimas

Os gráficos mostram os que ficaram no início da ladeira, no sopé da curva dos contaminados e não tiveram chance de poder, do platô, olhar o futuro.

Os velhos, etarismo à parte, foram os mais atingidos.

Entre eles,  os segregados vitalícios, moradores de abrigos e lares geriátricos.

Depois, os gordos.

A partir do sobrepeso, nem sempre reconhecido como doença.

A seguir, os pobres.

Em lugares menos miscigenados, negros, latinos e imigrantes orientais.

Não por questão genética, de raça.

Pela pobreza e por onde viviam.

As doenças pré-existentes e comorbidades foram os agravantes comuns a todos os grupos de risco.

A contaminação continuou universal, democrática e não distinguiu classe social, religião nem posicionamentos políticos.

Vírgula.

O contágio foi igual para todos; a reação ao flagelo, não.

Tudo sempre foi  tão desigual.

Mundos tão desiguais.

Nutrição, controle de doenças crônicas e condições higiênicas fizeram a diferença.

Aos adoecidos, a qualidade da assistência determinou o percentual de chances de sobrevivência.

Hospitais improvisados e equipes de atendimento com treinamento insuficiente não podem ser comparados com os demais, que mesmo tratando da mesma patologia ainda não totalmente conhecida, traziam a experiência de outras situações tão críticas.

Os arremedos de lockdown,  pouco protegeram os mais vulneráveis.

O busão continuou aglomerando os trabalhadores.

As falhas no esclarecimento à população dos alcances da vacina, mostravam a dificuldade de apontar limitações no que se esperava ser a perfeita dádiva divina.

Para o vírus, houve vida depois da injeção.

As pessoas não foram informadas que a sonhada vacina no ombro não era o fim do perigo, nem armadura impenetrável.

O grupo prioritário  continua sendo o de maior risco, para outras viroses mais sazonais.

E prevenção das quedas nos ambientes hospitalares.

Dos escombros da tragédia inesquecível, há de ser recolhida uma placa imaginária a ser afixada nos frontispícios e portões das casas:

Cuidem dos velhos

Sandra Ventura, fotógrafa portuguesa

 

(Partes do texto original e ilustrações foram publicadas em 09/06/2021)

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