VIDAS VELHAS IMPORTAM
Às vésperas do aniversário de número 71, uma pulseira roxa no pulso despertou no paciente a caminho da cirurgia de altas complexidade e tecnologia, sentimentos e reflexões de dois anos atrás.
A pandemia nem havia atingido o pico da primeira onda e já se sabia quem eram suas maiores vítimas
Os gráficos mostram os que ficaram no início da ladeira, no sopé da curva dos contaminados e não tiveram chance de poder, do platô, olhar o futuro.
Os velhos, etarismo à parte, foram os mais atingidos.
Entre eles, os segregados vitalícios, moradores de abrigos e lares geriátricos.
Depois, os gordos.
A partir do sobrepeso, nem sempre reconhecido como doença.
A seguir, os pobres.
Em lugares menos miscigenados, negros, latinos e imigrantes orientais.
Não por questão genética, de raça.
Pela pobreza e por onde viviam.
As doenças pré-existentes e comorbidades foram os agravantes comuns a todos os grupos de risco.
A contaminação continuou universal, democrática e não distinguiu classe social, religião nem posicionamentos políticos.
Vírgula.
O contágio foi igual para todos; a reação ao flagelo, não.
Tudo sempre foi tão desigual.
Mundos tão desiguais.
Nutrição, controle de doenças crônicas e condições higiênicas fizeram a diferença.
Aos adoecidos, a qualidade da assistência determinou o percentual de chances de sobrevivência.
Hospitais improvisados e equipes de atendimento com treinamento insuficiente não podem ser comparados com os demais, que mesmo tratando da mesma patologia ainda não totalmente conhecida, traziam a experiência de outras situações tão críticas.
Os arremedos de lockdown, pouco protegeram os mais vulneráveis.
O busão continuou aglomerando os trabalhadores.
As falhas no esclarecimento à população dos alcances da vacina, mostravam a dificuldade de apontar limitações no que se esperava ser a perfeita dádiva divina.
Para o vírus, houve vida depois da injeção.
As pessoas não foram informadas que a sonhada vacina no ombro não era o fim do perigo, nem armadura impenetrável.
O grupo prioritário continua sendo o de maior risco, para outras viroses mais sazonais.
E prevenção das quedas nos ambientes hospitalares.
Dos escombros da tragédia inesquecível, há de ser recolhida uma placa imaginária a ser afixada nos frontispícios e portões das casas:
Cuidem dos velhos
(Partes do texto original e ilustrações foram publicadas em 09/06/2021)