3 de maio de 2024
Memória

SEGREDOS INDUZIDOS

Três meninos brincando (1955) – Cândido Portinari


Com fama que rodou o mundo todo reunido às margens do
Curimataú, às segundas, para a grande feira, recebia pela sopa de Vicente Flor, os sapatos encardidos das internas da Escola Doméstica, para um brilho incomparável.

Baltazar é uma daquelas figuras imortais da nossa infância.

Como esquecer seu filho, mesmo se o reencontro tenha ocorrido num  ambulatório de hospital, com um birô separando o médico do paciente?

Consulta cheia de reminiscências e no final,  a necessidade de tratamento cirúrgico.

Com todas as prioridades para o conterrâneo (ainda não havia Central de Regulação), logo o procedimento já estava  marcado.

No centro cirúrgico, o paciente falando pelos cotovelos, passou a contar estórias da infância comum e  feliz.

A demonstração de total intimidade com o doutor, era  a esperança de

tratamento diferenciado pelas enfermagem.

Na indução anestésica, aquela fase em que as drogas agem como um soro da verdade e a língua fica mais solta, sem censura alguma,  o amigo resolve contar aventuras infantojuvenis na Princezinha do Agreste.

Falava dos jogos de futebol, passeios de bicicleta, banhos de bica e nos poços do rio, para além da Rua do Sapo.

E outras peripécias mais.

Temeroso até onde iriam aquelas revelações e antes que surgisse algum segredo mais comprometedor, o doutor-urologista pediu logo ao colega para que a anestesia fosse aprofundada.

 

Meninos brincando (1958) – Cândido Portinari


Publicação original em 29/03/2019

 

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