SEGREDOS INDUZIDOS
Com fama que rodou o mundo todo reunido às margens do Curimataú, às segundas, para a grande feira, recebia pela sopa de Vicente Flor, os sapatos encardidos das internas da Escola Doméstica, para um brilho incomparável.
Baltazar é uma daquelas figuras imortais da nossa infância.
Como esquecer seu filho, mesmo se o reencontro tenha ocorrido num ambulatório de hospital, com um birô separando o médico do paciente?
Consulta cheia de reminiscências e no final, a necessidade de tratamento cirúrgico.
Com todas as prioridades para o conterrâneo (ainda não havia Central de Regulação), logo o procedimento já estava marcado.
No centro cirúrgico, o paciente falando pelos cotovelos, passou a contar estórias da infância comum e feliz.
A demonstração de total intimidade com o doutor, era a esperança de
tratamento diferenciado pelas enfermagem.
Na indução anestésica, aquela fase em que as drogas agem como um soro da verdade e a língua fica mais solta, sem censura alguma, o amigo resolve contar aventuras infantojuvenis na Princezinha do Agreste.
Falava dos jogos de futebol, passeios de bicicleta, banhos de bica e nos poços do rio, para além da Rua do Sapo.
E outras peripécias mais.
Temeroso até onde iriam aquelas revelações e antes que surgisse algum segredo mais comprometedor, o doutor-urologista pediu logo ao colega para que a anestesia fosse aprofundada.
Publicação original em 29/03/2019