UM HOTEL TOMBADO PELA EMOÇÃO
Há quatro anos, nesta terra dos opostos, xarias e canguleiros, encerrada a votação e dado o comando enter no resultado da eleição presidencial não contestada, foi logo entabulada outra ferrenha disputa.
Diana não há de ter nesta terra de Clara Camarão.
Ou se era a favor ou contra a demolição do prédio em ruínas na beira da praia.
A edificação, às quedas, tal muitos saíam das suas boates nas altas horas, apesar de valiosa e ter dono, parecia abandonada.
E como qualquer achado não é roubado, quem encontrava nela, alguma serventia, fazia bom ou mal uso.
Para muitos, sem outro teto, abrigo do sol, da chuva e dos ventos das madrugadas frias, o último refúgio.
Para os mesmos e assemelhados, área livre para atividades proibidas em outros lugares.
Continuou ninho de amor, como no passado, dizem, foi dos figurões e suas companhias importadas a preço de vaca holandesa.
Mesmo quem nunca passou além da calçada, sentia-se um pouco dono do pedaço, incorporado ao patrimônio cênico, como se erguido pela natureza, tivesse sido.
O descaso havia virado vergonha para quem mostrava a cidade aos visitantes.
E reminiscências dos frequentadores saudosos.
Dos antigos funcionários.
Das noivinhas.
Dos leitos nupciais.
Dos embalos dos sábados e de todos os dias.
Das noites do Havaí, muito antes das no Tahiti nunca tombado.
Das entrevistas dos potentados e das celebridades.
Dos craques do futebol e seus autógrafos e marias-chuteiras.
Das festas de alegria e esplendor, das jovens misses que, em desfile, suas cidades representavam.
Dos escroques só revelados depois do checkout, na última página do Diário.
Até do frangote, adolescente, púbere, recordando as melhores manhãs de domingo de sua vida, na piscina mais bonita do mundo.
O Reis Magos, demolido há três anos, continua no mesmo lugar, despertando recordações.
Agora, invisível.