4 de maio de 2024
Comportamento

UM JEITO NOVO DE TRABALHAR

Retrato de Ferruccio Busoni (1916) – Umberto Boccione – Museu do Século XX, MoMa, Nova Iorque

 

 

Na portaria do prédio já não se ouve o bom-dia do Seu Silva.

A simpática porteira remota, com voz aveludada de locutora de aeroporto, faz a leitura facial e com delicadeza, deixa o visitante (cadastrado) entrar.

Quem ainda imagina que um bioquímico utiliza pistilos, almofarizes, cadinhos, buretas, pipetas e aquece as substâncias com bicos de Bunsen, precisa conhecer as  competências dos analisadores digitais.

E não são profissionais com quadradinho no organograma, direitos trabalhistas.

Nem mesmo pessoas de carne e osso.

Máquinas que a cada nova geração vão se tornando mais autônomas, com  menos erros, controles, ajustes e calibrações.

E interferência humana.

Disponível no mercado, de fabricação tupiniquim, um aparelho portátil, do tamanho de um liquidificador, capaz de ler, em minutos, todas as informações médicas relevantes em um exame biológico de sangue, fezes, urina ou saliva.

Com precisão, realiza testes laboratoriais sem a necessidade de encaminhar o paciente a um laboratório.

Um plano de saúde fechou todas suas agências de atendimento presencial. Os mesmos serviços, sem burocracia, filas, humores, nem esperas,  continuam sendo prestados ao alcance de qualquer smartphone.

De onde?

Quem lá precisa saber deste detalhe?

Ao terminar o procedimento cirúrgico o médico no seu laptop, faz sozinho, o trabalho que uma meia dúzia de burocratas costumavam levar dias.

Para processar a conta, verificar carimbos, códigos, vistos e glosas.

Ao enviar o arquivo, o doutor sabe quando e quanto (com precisão de centavos) vai receber de honorários.

Uma simples foto tirada em um celular e um aplicativo de origem húngara, é a maneira mais fácil de se pesar um boi, vaca ou bezerro, fora do brete.

O tio com fama de boa vida, em meados do século passado, aproveitava a topografia da propriedade para fazer o que os vizinhos penavam  em lombo de cavalo sob sol inclemente.

Aprendeu a usar a mais moderna tecnologia alemã da época.

Com um par de binóculos Zeiss, contava o rebanho em uma vista d’olhos.

No conforto do alpendre, à sombra.

Levou fama de preguiçoso.

 

A cidade se ergue (1910) Umberto Boccione – Museu do Século XX, MoMa, Nova Iorque

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