UMA LUZ QUE SE ACENDE
Ninguém personifica mais o país nestes tempos de pandemia, que Diógenes de Sinope.
Maltrapilho, escondendo suas vergonhas num velho barril, o filósofo cínico vagou com um candeeiro na mão e uma ideia fixa na cabeça. Encontrar um homem honesto.
Ardendo em chamas, obrigado a contar aos milhares a cada dia, os que não resistem, o Brasil procura uma saída política para a maior crise, econômica, social e sanitária de todas.
Timidamente.
Mesmo assim, os primeiros sinais incipientes são auspiciosos.
Entre o capitalismo selvagem e o socialismo romântico, os partidos vão se ajustando, fugindo dos extremos.
O Novo que além do nome, representa o estado mínimo, já anunciou que sua estrela de maior grandeza não brilhará sob os holofotes, na próxima campanha eleitoral.
No outro campo, estatizante, os partidos mais à esquerda vêm sendo submetidos a rigoroso regime de emagrecimento.
O PCdoB perdeu o peso mais pesado, o Governador Flavio Dino e o PSOL, seu astro global, Deputado Marcelo Freixo.
O jogo, tudo indica, vai ser pelas meias. Não necessariamente com a bola sempre servida aos dois veteranos em evidência.
Já é notório que o escrete precisa de um novo centro-avante. Mesmo que não venha do consenso quase impossível, que possa ser a terceira via, com fôlego para romper a retranca da economia, mal saído do departamento médico.
O Congresso Nacional como em redenção pelo espetáculo de humor grotesco, sátira da santa inquisição, em cartaz na sala da comissão de inquérito do Senado, deu sinal que tem salvação.
A Câmara dos Deputados demonstrou que pode haver convergências quando justas mudanças são necessárias.
A revisão da lei da improbidade, antecipação da inevitável reforma administrativa, vem corrigir um erro gritante ao limitar poderes que têm sido abusivos, causando sofrimento a famílias e afastamento do serviço público, das melhores vocações.
É incrível que a principal mudança não tenha sido aprovada por unanimidade.
O pré-requisito de provas para que haja uma condenação, deveria ter sido sempre a norma, ainda que nunca sancionada.
Ainda há quem discorde que é preciso dolo e deliberada violação da lei, para que o crime seja configurado.
Talvez quem nunca parou para pensar nas armadilhas burocráticas e na inércia da máquina oficial que expõem reputações às lâminas afiadas dos trituradores dos moinhos carniceiros.
Ratificada pelo Senado, a nova lei de improbidade livrará de processos e punições, vítimas de interpretações, as mais esdrúxulas, sobre o que é causar prejuízo ao erário.
Onde cabe até, o esquecimento de lâmpadas acesas na repartição, por um fim de semana.
A luz há de brilhar mais uma vez.
Céllus (2020)