UMA PORRADA DE DEMOCRACIA
A incrível operação de buscas, apreensões, bloqueios de contas bancárias e nas redes sociais, além de obrigar alguns dos mais falastrões empresários a abrir crediário para comprar um novo 5G nas lojas Havan, lembra outro episódio tão explosivo, ocorrido há dois anos.
A tecnologia que facilita gravações já ultrapassou em muito a imaginação de George Orwell, 38 anos depois que as inacreditáveis previsões aconteceriam.
Famosos e poderosos são seguidos o tempo todo, e o que fazem em público e no semi-privado, pode acabar no noticiário da noite, nas caras, bocas e muxoxos do Príncipe William.
Até do presidente de república, conseguem gravar pensamentos e vontades.
Incluídos os verbalizados, como de encher a boca de alguma perguntadora impertinente, de porrada.
Uma pergunta sobre um cheque depositado na conta da patroa, bombou no Twitter e motivou o infalível kit de notas de repúdio das instituições de sempre: ABI, OAB, QRS, PQP, LGTBQIAP+
O ríspido diálogo, logo transformado em crise política- institucional, só foi resolvida após a pronta intervenção do movimento suprapartidário dos Isentões pela Democracia Alexandrina.
Tudo havia se passado na calçada da catedral, mas podia ter acontecido num boteco bunda-de-fora, em alguma esquina de Ceilândia.
Para aqueles tempos de aglomerações proibidas, exceto as autorizada por Renata Vasconcelos, muita gente até que pôde sair às ruas e testemunhar o princípio de arranca-rabo.
Em país multicultural, há de se levar em conta, o sentido das palavras e sua completude.
Muitas vezes o que se ouve, foi dito em outra intenção.
E se na polêmica frase, “encher a boca de porrada”, ficou faltando o complemento?
Onde estaria o objeto do suposto crime?
Em nenhum momento foi dito do que seria enchida a boca da bisbilhoteira dos canhotos de cheques das mulheres alheias.
Porrada, está em todos os dicionários. Refere-se também a uma grande quantidade, ou um grande número de qualquer coisa.
Não necessariamente, trata-se de palavra violenta.
Pode expressar abundância ou generosidade.
Aí, convenhamos, numa boca cabe um porrilhão de coisas.
A Presidenta Dilma enchia de dentifrício. Que quando saía do tubo, não voltava mais.
Os amantes de beijos.
Os poetas, de lindos versos de amor.
É preciso entender quem, ocupando cargo tão estressante, tem de defender as tradições familiares, incluídas as transações bancárias via cheques ao portador.
Muito bom como sempre