28 de abril de 2024
Opinião

Urnas decretaram fim de ciclo e começo de outro

 

 

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Urnas decretaram fim de

ciclo e começo de outro

 

 

 

 

 

Roda Viva – Tribuna do Norte – 121022

Das urnas de 2022 surge um novo quadro político no Rio Grande do Norte, com a aposentadoria de três dos mais tradicionais grupos político-familiares que vinham dominando a atividade, pelo menos, nos últimos 40 anos, sucedendo o agrupamento da grande maioria dos contrários em duas siglas: PSD e UDN  (até a ruptura de 1964).

Embora ainda seja cedo para se identificar quem assumirá o lugar daqueles que estão sendo substituídos, uma coisa é certa: o processo de mudança foi inapelavelmente deflagrado.

Repete-se, mais ou menos, o script da saída de cena do grupo comandado por Dinarte Mariz, que até os anos ´80, havia assumido o acervo da União Democrática Nacional, a velha UDN, e foi defenestrado por Tarcísio Maia.

Agora, o exemplo mais contundente veio de Mossoró, sem nenhum integrante da família Rosado, que comandou o segundo maior eleitorado,  com influência em todo o Estado nos últimos 70 anos, parte dos quais dividido, entre dois ramos dessa mesma família, com mandato renovado. Das urnas de 2022 não saiu um só Rosado com um mandato popular.

 

ALVES X MAIA

 

Desde os anos ´80, o noticiário político do RN resumia as suas disputas como um assunto das famílias Alves e Maia.

Os Alves sacramentados pelas urnas de 1960 quando Aluízio Alves, engoliu o PSD usando a sua estrutura para derrotar a UDN, de onde vinha,  chefiada por Dinarte Mariz, que estava no Governo do Estado.

Aluízio puxou dois irmãos para a política – Agnelo e Garibaldi – e os três entraram na linha de tiro do Governo Militar, que cassou os três pelo AI-5.

Cassado, Aluízio, que era Deputado da ARENA (o partido dos militares) mostrou ter sete vidas, e na eleição de 1970, mesmo proscrito ele comandou o MDB (partido de oposição consentida) e laçou o filho, Henrique Eduardo, com pouco mais de 20 anos para ocupar sua cadeira na Câmara Federal, e o sobrinho, Garibaldi Filho, para substituir o pai na Assembleia Legislativa.

Atuando na clandestinidade, Aluízio transformou o MDB – “que cabia num fusca” – num grande partido, abrindo espaço para uma nova geração de políticos, “o jardim da infância”. Com a redemocratização saiu da clandestinidade voltou à Câmara Federal e, por duas vezes foi Ministro de Estado.

 

LÍDER NOMEADO

 

Um grupo de coronéis do IV Exército (que tinha jurisdição por todo o Nordeste) resolveu acabar a dicotomia Dinarte X Aluízio na política potiguar. Eles imaginaram   resolver o problema nomeado um “Líder” para o Rio Grande do Norte, o professor Cortez Pereira, então diretor de crédito agrícola do Banco do Nordeste, escolhido Governador do Estado.

Dinarte Mariz, no dia da posse de Cortez no Governo, em março de 1971, num comício na praça pública, passou a sua liderança para Cortez (como se isso fosse possível). Cortez cuidou de fazer um governo para o futuro, criando vários projetos estruturantes, o que era incompatível com o exercício da liderança política estadual, sustentada no clientelismo.

Assim, na hora de escolher seu sucessor, existia uma dezena de candidatos a Governador, para se encontrar aquele que seria o escolhido pelos militares. Cada um tentando liquidar o possível concorrente.

Como todos tiveram êxito, coube ao Palácio do Planalto (leia-se general Golbery do Couto Silva), descobrir no Rio de Janeiro um político aposentado do RN, com ficha limpa capaz de passar pelos órgãos de segurança e informação,

 

OS TRÊS MAIAS

 

Ai vieram os Maia com Tarcísio de Vasconcelos Maia, de tradicional família política de Catolé do Rocha, Paraiba, formado em Medicina, na Bahía. Recém formado chegou para clinicar na cidade de Mossoró, onde foi descoberto para ser Secretário da Educação (Governo Dinarte Mariz) e depois se elegeu Deputado Federal (ficando num só mandato), e depois se mudou para desfrutar o Rio de Janeiro, virando uma reserva técnica do RN.

Escolhido pelo Palácio do Planalto Tarcísio para ser Governador chegou dizendo não querer ser líder, com a missão de pacificar o estado e restabelecer a moralidade administrativa. E tratou de manter o canal livre com o Planalto, que lhe permitiu fazer seus dois sucessores: o primo Lavoisier Maia, seu Secretário da Saúde, e o filho José Agripino, respaldado pela excelente administração que realizou em Natal como Prefeito nomeado, eleito pelo voto popular contra o mito Aluizio Alves.

As urnas de Outubro de 2022 confirmaram que o ciclo dos Alves e dos Maia havia chegado ao fim, embora Walter Alves, responsável agora pela destruição do MDB potiguar, tenha saído Vice-governador de Fátima Bezerra, uma posição subalterna para quem quer liderar um grupo político.

 

A VOZ DA URNA

 

Até o presente, as urnas não disserem quem vai comandar o novo ciclo da política do Rio Grande do Norte.

Foi dito de forma clara quem. não comandará esse ciclo: Nem os Alves, os Maia ou os Rosado.

Muito dificilmente esses grupos conseguirão se reestruturar em curto prazo, quando aparecem novos nomes com todas as condições para abrirem esse novo ciclo.

Começando pelos dois eleitos nos pleitos majoritários de 2022: Fátima Bezerra e Rogério Marinho que, no momento estão vivendo uma preliminar para o que deve vir pela frente: o segundo turno da eleição presidencial.

Fora os dois, as urnas fortaleceram outros nomes, como o deputado João Maia e os Prefeitos  (Àlvaro Dias e Allyson Bezerra) de Natal e Mossoró, que tiveram um bom desempenho na eleição; mas esse é ainda só o cacife  para um jogo que ainda vai começar.

A definição certamente vai acontecer pós eleição de 2026; até lá tendo no meio, a eleição de 2024 envolvendo os 167 municípios potiguares, base indispensável para o surgimento de grupos que podem ficar submetidos à uma liderança, se esta não conseguir se sobrepor aos partidos que as urnas mostraram a volta de sua importância.

 

 

 

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