3 de maio de 2024
Memória

VAI CRIANÇA, SER BRAWLER NA VIDA

Duas Crianças (1890) – Vincent van Gogh – Coleção Joseph Albritton, Washington DC, Estados Unidos da América

Primos?

Melhor tê-los.

Aos montes.

Com as novas configurações familiares, de geração a geração, já vinham  diminuindo em número.

E grau de parentesco.

O distanciamento sanitário impediu o convívio mais frequente com os poucos que o planejamento familiar permitia.

Como será essa gente sem os quase irmãos, é mais um mistério a ser desvendado pelo tempo.

E o que virá depois que a tormenta passar a ser uma lembrança senil.

Isolados, com aulas à distância, os pequenos perderam a dupla companhia.

Na escola, dos colegas  e sem oportunidades de estreitar os laços com os parentes mais próximos,  no território libertário da casa dos avós.

A convivência e a intimidade foram transferidas para os youtubers, as novas babás que fazem as cabeças e decidem o que vão ser e consumir.

O primeiro Natal em isolamento e o veraneio recluso e solitário, mostraram  as mudanças.

Refletidos nos brinquedos que receberam.

Jogos coletivos, em baixa. Brincadeiras que pediam parceiros, no esquecimento

Reforço maior para os introspectivos e eletrônicos.

Não é sem razão que o jogo de maior sucesso nos tempos de flexibilização foi o Brawl Stars.

Aplicativo para ser jogado em smartphones, individualmente ou em configurações com jogadores remotos, formando duplas ou equipes de três.

Disputas online contra times que não se sabe nem onde ficam concentrados.

No game se escolhe um personagem, chamado brawler (brigão), de  variadas características pré-estabelecidas,  para  competirem  em diferentes arenas.

Lições que são logo assimiladas e aprendidas pelos  pequenos.

Na vida imaginária, o objetivo é sobreviver.

Passar de fase.

Contornar obstáculos. Eliminar oponentes.

Acumular gemas de ouro.

Tornar-se um guerreiro cada vez melhor.

A vida real imita a de mentirinha,  mas com outras  táticas de jogos.

No de carne e osso, a sobrevivência é também buscada para os mais  próximos e queridos.

Dificuldade, é como destruir a ameaça que não revela sua alma.

Logo, aprendem que nem todas as lutas são vencidas com manobras de ataque.

Que até conhecer com quem é a briga, o melhor é manter distância e evitar o contato.

O distanciamento para a proteção dos avós, de consequências inimagináveis, desde que vinham sendo alertados que mesmos de baixo risco ou imunes, eram perigosos e potencialmente mortais.

E podiam transmitir a doença mais terrível que já se ouviu falar.

Sentirão falta dos cúmplices parceiros nas peraltices e da liberdade permissiva em  regras abrandados dos que foram pais mais severos.

Mulheres e crianças bretãs (1888) – Galeria de Arte Moderna de Milão, Itália

(Texto publicado em 23/12/2020)

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