3 de maio de 2024
Memória

FAZENDO CONTAS

O Pesadelo (1781) – Johann Heinrich Füssli – Instituto de Artes de Detroit, EUA


Sabe aqueles dias?

Aqueles que nem só as mulheres têm?

Mesmo sem sangue, futebol nem trabalho? Diferentes. Abafados.

Você acorda como Nizan Guanaes acordou em  todos seus dias  de convívio íntimo com a Covid-19.

Sem nada sentir, a não ser a falta do cheiro e o gosto das coisas.  Tudo igual. Tudo bem.  Sem estar bem.

Um ar pesado.

Tão limpo quanto o de Nova Déli durante a quarentena.

O jornal em papel já lido na telinha e na cama, antes de ser achado entre os arbustos espinhentos do canto do jardim.

Tudo sem muita graça.

Novidade alguma.

O novo hábito de só ligar a TV no final da tarde, para a  dose distanciada d’A Casa de Papel e depois,  mesa redonda ancorada pelo Mandetta.

  daquela dupla sertaneja, Wanderson e Gabbardo. Sabem tudo de futebol.

Depois que começaram a chamar uns sem futuro, o programa tem perdido.

Até audiência pro Datena.

Viva, Damares apareceu.

Tenham dó.

Preocupada com o aumento da violência doméstica.

Não  levou em conta as medidas protetivas do próprio governo.

Não tem cocorote que alcance a lonjura regulamentar de 1,5 m que o Presidente Trump finalmente passou a recomendar.

O jeito é assistir a sessão terror, com o resumão de Bonner Karloff.

E depois dizer, como 54% dos ibopianos entrevistados por telefone,  que nunca mais assistiram aquele planeta lixo.

Tranquila e glamurosa, só a vida dos blogueiros 084 Control CC.

Um dissidente, sem patrocínio, só porque sugeriu, no dia 15 de março, o fechamento do teatro, levou carão e fama de alarmista. Em nota oficial.

Imagine os que estão agorando 29.109 mortos, no dia 15 de maio?

Essas contas que tem aparecido por aí, sei não.

Ainda bem que aquela dinheirama, de 3 milhões pra propaganda, gorou.
Ia ter muito mais gente pulando da ponte que usando máscaras.

Deu na veneta, aplicar o mesmo método para calcular qual será o número de leitores destes textículos, somente no Insta, no dia da doidice final do governo da mulher popular.

Se hoje, na primeira hora,  a média de acessos é 89, multiplicando pela constante alfa-ômega, serão  2136 amanhã e 53.400 daqui  a  um mês. Incluído o delta minus dos que baixarem no hospital inflável.

Os números batem com os do John Hopkins e do The White Hill Institute.

Isso, se os leitores permanecerem em supressão, fiés e isolados em seus smartphones.

Se confirmada a previsão,  vai ter gasto de nota preta, pra que todos saibam o que é sucesso de verdade.

Vai rodar anúncio em tudo que é traseira de ônibus da linha Rocas-Quintas.

O que não dá pra entender é essa cisma da governadora em querer controlar tudo.

Até a hora da pizza.

Haja resiliência, senhorita.

As pizzarias fechadas e  nada de  delivery depois das sete da noite.

O jeito é bolar um plano pra burlar essa proibição, sem que os radares do Ciosp percebam.

O cidadão criptoinfrator faz um pedido, de tardezinha, como se fosse lanchar. Mas ao invés de brotinho, pede logo uma gigantona, tamanho família.

Depois da novela das nove, é só esquentar no microondas.

Fica meio solada.

Fazer o quê?

Culpa desse maldito corona.

Lady Macbeth com as adagas (1812) – Johann Heinrich Füssli – Galeria Tate, Londres, Reino Unido


(Publicado há quatro anos, este texto traz personagens já esquecidos, proibições que os poderosos querem esquecer, e todo o medo traduzido em ironia)

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