8 de maio de 2024
CarnatalNota

VELHOS CARNATAIS

Festa Mascarada em um Pátio (1775) – Pietro Longhi – Museu de Arte de Saint Louis, Missouri, EUA

Do entrudo, a saudade tem sido contada em verso, prosa e samba.

Do tríduo momesco, corso, confetes e serpentinas.

Das fantasias de pierrôs, colombinas, arlequins, piratas da perna-de-pau.

E do ron montilla.

31 anos depois, o carnaval fora de época suplantou o do calendário gregoriano, e já conta com  um cordão de saudosistas.

Faz parte da vida da cidade.

Entrou para a História.

É coisa nossa.

Como a festa de reis.

Desapareceram as reclamações dos transtornos, e pelo direito de ir e vir dos amofinados.

Pararam os protestos etílicos pelas  paradas do trio elétrico, por prego ou emaranhado nos fios elétricos, nas ruas de muros e postes baixos.

Por que parou?….

Parou porque….

Por causa da cruel constatação que o espelho não engana, nem os músculos respondem mais como outrora.

Pela incessante busca do tempo que se perdeu.

De alegria, sonhos e ilusões.

Patuscos que pulavam maratonas de mais de seis horas, em processo de involução carnavalesca, se forem soltos no corredor da folia, correm o risco de  sofrer choque subcultural.

Ou acabarão com  mais alguns stents na coleção guardada no peito.

Mudaram os blocos.

Mudaram os brincantes.

Infantil, acabou.

Teen? Tem mais não.

De encontrar amigos na faixa, nem pensar.

Tudo dominado pelos saradões.

E reclamos da outra banda da maçã.

Vumbora!

Não se faz mais a  rigorosa escolha dos dez casais com quem dividir o camarote (chiqueirinho, perto dos mega) e a euforia das madrugadas.

O ritual de  decorar o ambiente confinado e abastecê-lo antes do anoitecer.

Quem não ia nem de táxi, agora vai de Über.

Nem lança-perfume, nem rodouro, nem kelene.

O gás hilariante se liquefez em cheirinho da loló. Virou , às carreiras, e agora é pedra.

Até o  costume de cherchez la femme, foi multiplicado por uma miríade de outros gêneros não biológicos e infinidade de siglas indecifráveis.

É a  saudade que mata a gente, velho.

O Ridotto em Veneza (1750) – Pietro Longhi – Coleção privada

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