VERBO CONTRARIADO
Depois que o pavor à pandemia foi reduzido a medo, apareceu um novo cliente na praça.
Consumidor voraz e infiel.
Há milhares de novos clientes, consumidores vorazes e infiéis na praça.
Há milhões de novos clientes, consumidores vorazes, infiéis e exigentes na praça.
Quem se habituou a buscar informação e entretenimento nas telas dos smartphones ainda segue sendo estudado pela mídia e novas mídias, mas não foi conquistado por completo.
Continua livre, na pista.
O mais evidente sinal da sua insatisfação é o zapping.
Não existe nada mais rápido.
A mudança brusca, mais radical, em unidades de tempo ainda por definir.
Talvez, na velocidade 5G, quando julho chegar, teremos sim que dividir os segundos em partes menores.
E não venham com os velhos décimos e centésimos.
O que virá será o que virá.
Logo, o novo ainda não existe.
E se existir, a Huawei não revelou como é, ainda.
As próprias maravilhas da comunicação eletrônica deixam a desejar.
Muito.
Incluído o sabichão Google.
Mesmo quando seu espírito é baixado nos melhores terreiros de Wi-Fi, incorporado aos cavalos dos mais atualizados iPhones e Andróides.
Por vezes, teimam como uma burra-mula.
Em conluio com o VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa) não permite, e corrige sempre, qualquer tentativa de escrever uma variação empregada na fala informal.
Percebe-se que os buscadores, corretores de texto e dicionários de internet não dão a mínima para a prosódia regional, quando não se consegue escrever uma simples palavra, como enterter.
Aparece logo sublinhada de vermelho, quando não é corrigida automaticamente.
Não resta dúvida que tudo começou na matriz, em Hollywood.
Entertainment.
Anunciado pelo rugido da Metro-Goldwyn-Mayer, demorou a ser traduzida para os dialetos tropicais.
Ao pé da letra, a lógica da fala comum indica Entertenimento.
Trocaram a posição do R e chutaram para longe a ortoépia regional nordestina.
Nós nos divertimos com tanta coisa…
Até em imaginar que alguém possa ter chegado ao final desta leitura.
Mistérios da blogosfera que não têm explicação.
Ainda.
(Este barbarismo foi publicado originalmente, em 2/1/2020)
