A VERSÃO BRASILEIRA DE UMA COMÉDIA AMERICANA
Rudolf Giuliani
Em 2020 o Oscar de melhor comediante não foi para o estreante Rudolph Giuliani.
Ex-prefeito de Nova Iorque, afastado da política, voltou à ribalta, como principal consultor do Presidente Trump e porta voz de um batalhão de advogados.
Com a paralisação da indústria cinematográfica pela pandemia, ninguém esperava que um outsider pudesse empolgar tanto num filme de baixo orçamento.
Os takes iniciais do protagonista soltando disparates em 140 toques e retrucando, sem a elegância que a liturgia do cargo exige, as perguntas dos repórteres, por si garantiriam somente graça contida e poucas risadas na sessão da madrugada.
Usando a técnica do filme dentro do filme, Giuliani roubou a cena de Borat e a Fita de Cinema Seguinte.
Ao aceitar ser entrevistado na cama de um quarto de hotel e quase avançar o sinal da falsa entrevistadora, era de se esperar que seu papel estivesse concluído com o desfecho da pegadinha.
O protagonista canastrão estava certo que só perderia a eleição se ocorresse uma catástrofe (que só ele não viu) ou burla em série (que mais ninguém viu).
Não foi como estava no script.
O suspense arrastado até virar uma sucessão de piadas, obrigou a troca do bordão.
Saiu fakenews, entrou fraude.
Sem provas robustas, o filme reservou surpresas na sequência que mostrava o principal assessor presidencial defendendo a anulação das eleições.
O suor brotando na fronte e escorrendo pela face, na cor asa de graúna das tinturas baratas de cabelos, não foi reconhecido pela Academia de Hollywood como desempenho digno do prêmio máximo.
Ficou para a imaginação do respeitável público, o discurso do agraciado ao receber a honraria.
–Está estatueta é fake. É uma fraude. Foi só banhada a ouro.
Dois anos depois, o cinema brasileiro pode repetir o mesmo sucesso.
E não será por falta de personagens.
O único problema é que ninguém vai acreditar que o roteiro seja original.
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