26 de abril de 2024
Coronavírus

A HORA DA VERDADE

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(Publicação original em 21/04/2019)

Nestes tempos de produção de médicos à toda carga, uma estória de 40 anos pode dar uma ideia de como eram  no início da vida profissional, as estratégias para se conseguir um bom lugar entre os notáveis.

Com 15 mil formados em escolas fronteiriças e com a necessidade de apressar a formação de tantos outros para o combate da pandemia, o post merece uma deliciosa releitura.

HOMI…

Aos trancos e barrancos, formou-se em Medicina (quando entrar para o curso ainda era por funil de boca estreita).

Pai rico, associou-se logo à conceituada clínica de boa clientela na Ilha do Leite.

Para poder se destacar entre tantos colegas talentosos e experientes, arranjou um estágio num conceituadíssimo serviço na Grã Bretanha.

Conheceu toda a Europa.

Teve mais horas de trem do que de hospital.

Chegada a hora da volta, resolve levar na bagagem, alguma novidade.

Na especialidade, vislumbrou a chance de fazer pela primeira vez na província, um procedimento muito complexo mas que lhes pareceu promissor.

Seria uma grande rentrée.

Tratou de organizar um seminário onde apresentaria a novidade trazida das terras da rainha e cujo ponto alto seria uma cirurgia-demonstração. Ao vivo.

Tudo correu conforme o planejado. Conseguiu despertar entre seus pares, grande expectativa. O evento seria um grande sucesso.

Chegara o grande dia e sua oportunidade de afirmação definitiva.

Devidamente paramentado, paciente anestesiado, rodeado por colegas ávidos por aprender também aquela nova técnica, não contava com a participação, não solicitada, de um deles.

Ao pegar no bisturi, pronto para a incisão inicial, ouviu de trás um murmúrio desconfiado: homi ….

Foi o suficiente para despertar toda insegurança que vinha dissimulando e suspender a operação.

             

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