À MESA COMO NÃO CONVÉM
Paradoxo maior para quem comete textículos diários, não há.
Ter que pisar em ovos.
Tabus, inconveniências, melindres, incompreensões.
Falar de gente, pessoas facilmente identificáveis, mesmo sem nomes assentados, não garante o anonimato. Nem ameniza a intolerância.
A opinião censurada sobre fatos noticiados, copiados, analisados e criticados por tantos, como se sentássemos sobre as dos outros.
Cada um tem a sua.
E quem não tem bedelho, que meta o pau. Ou a colher.
De quando em vez, um reparo a algum assunto tratado. Um ângulo que não saiu bem na foto e não serve pra postar no Insta.
Na dicotomia em que vivemos, o esperado e previsível.
Muito natural no país que só tem duas correntes ideológicas: comunistas dos pés roxos e neonazifascistas.
Nem o habeas corpus preventivo do título do território, liberta das algemas.
Dúvidas pra que cordão a diana pende, nunca serão esclarecidas por quem acredita que um dedal de anarquismo não faz faz mal a ninguém.
O universo, governado pelo caos, deve continuar livre, no ar, enquanto as batidas das asas de uma borboleta em Lagoa d’Anta causar enchentes no Texas.
Com tantos rótulos em órbita, sempre aparece um pra cair nas cabeças como uma touca de saci.
Qualquer referência a grupos minoritários, apesar de alguns, em número, já ganharem de capote, é um perigo.
Mesmo para quem paga as despesas com ironia e aceita de troco, qualquer gaiatice.
O petisco é arriscado e a alma, imensa.
A omelete do dia foi preparada em restaurante de fast-food de beira de uma infinita highway.
Última parada antes do encontro para um fim de semana com família amiga, as recomendações para evitar gafes e saias justas.
Como convém, revisão de manual de conduta e boas maneiras.
Ao caçula de sete anos, explicação especial sobre um casal gay que estaria presente.
Na dúvida, se as informações foram suficientes e adequadas, a pergunta se o pequeno sabia o que era um homossexual, ficou para ser respondida em outro ambiente.
Pai, estamos na mesa...
(Publicação original em 15/02/2020)