26 de abril de 2024
Comportamento

AVES DE ARRIBAÇÃO

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Se faz  mal tempo elas vão; se faz bom tempo elas vêm.

A procura por melhores condições de vida é a motivação de todas.

O apoio de quem pousou  primeiro, o novo endereço, nunca escolhido.

No Rio de Janeiro,  a comunidade do Jacarezinho é onde os novacruzenses se sentem em casa.

Hoje é dia de revisitá-la.

          (Publicação original em 19/08/2019)


TURMA DO GUETO

Toda grande cidade tem.

Onde houver migrantes e dificuldades, o ajuntamento  se forma.

Uns acudindo os outros. Na fiança, no período probatório, no primeiro forró.                          

Vão ficando juntos, acolhendo mais quem chegar e se espalhando.

Em São Paulo, bairros inteiros com predominância e jeito de países tão distantes como Japão e Itália.

Liberdade e Brás viram outros refugiados assimilando culturas d’além mar e do sul maravilhoso.

Aprendem tudo. E rápido.

O machismo, esquecido nas cozinhas só para mulheres e nas veredas empoeiradas dos grotões, não impediu quem nunca tinha visto uma bolacha tão grande nem sabia que se come peixe sem fritar, darem os mais requisitados pizzaiolos e  sushimen.

No Rio, ocupam solidária e democraticamente todas as comunidades, cortiços e favelas.

Nova Cruz instalou sua representação diplomática no Jacarezinho. Região agreste da cidade, entre a praia de Ramos e o morro do Alemão.

Pra ser mais preciso, nas cercanias do Buraco do Lacerda.

Entre ex-moradores famosos, o senador de origem potiguar Romário Faria (ramo não oligárquico da família) e o falecido justiceiro Paraibinha, oriundo da região do Curimataú-Bujarí, com passagens meteórica pela crônica policial da Guanabara.

Qualquer experiência somava valiosos pontos na conquista dos abundantes empregos. Costureiras e feirantes com mais facilidades.

Mesmo aqueles com pouca experiência.  Part time workers, nas feiras das segundas, reforçando o time de vendedores das Lojas Paulista e congêneres concorrentes. Uma carta de recomendação do gerente Waldemar Ferreira podia fazer a diferença na carteira de trabalho.

Eliezer, sapateiro dos bons, camarada comunista, líder do grupo dos 11 de Brizola, conseguiu transferir o ideal igualitário mas não as artes do ofício, para todos os filhos.            

Arim,  montou oficina e fez sucesso na capital, enquanto os calçados dos ricos e remediados eram feitos sob medida, nas formas customizadas.

Mais novo, Araken, no rastro de tantos amigos que voltavam a passeio, falando carioca, roupas bacanas, fazendo bossa com rádio de pilha, conseguiu um desconto com Dona Maria de Severino Pau-de-Arara e pegou o ônibus da Planalto em busca de vida menos previsível e modorrenta.

A gravata quadriculada não foi disfarce  para esconder a identidade do galego sarará, cortador de tecidos para os turcos da Casa Assuf, na Nossa Senhora de Copacabana.

O conterrâneo, acompanhante da patroa na compra do enxoval para o quarto e sala, fez o reconhecimento e o teste.

Perguntou pela origem do vendedor.                         Alemão, croata ou gaúcho?                                    

Com sotaque do Irajá, disse ser do norte.

Na frente do gerente, ficou ainda mais amarelo quando o amigo de infância,  disse tê-lo achado a cara de um cara da sua terra que tinha arribado depois de ter pintado e bordado. E fugido da polícia.

O encontro e a brincadeira  acabaram em reminiscências e olhos marejados de saudade.

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One thought on “AVES DE ARRIBAÇÃO

  • Geraldo Batista de Araújo

    Trocar nome de rua é burrice. Por mais inportante que seja a figura não deteve mudar o nome de uma rua ou avenida. Têm muita duas projetadas sem nome. Ponham o nome de Naval do numa dessas ruas.

    Resposta

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