AVES DE ARRIBAÇÃO
Se faz mal tempo elas vão; se faz bom tempo elas vêm.
A procura por melhores condições de vida é a motivação de todas.
O apoio de quem pousou primeiro, o novo endereço, nunca escolhido.
No Rio de Janeiro, a comunidade do Jacarezinho é onde os novacruzenses se sentem em casa.
Hoje é dia de revisitá-la.
(Publicação original em 19/08/2019)
TURMA DO GUETO
Toda grande cidade tem.
Onde houver migrantes e dificuldades, o ajuntamento se forma.
Uns acudindo os outros. Na fiança, no período probatório, no primeiro forró.
Vão ficando juntos, acolhendo mais quem chegar e se espalhando.
Em São Paulo, bairros inteiros com predominância e jeito de países tão distantes como Japão e Itália.
Liberdade e Brás viram outros refugiados assimilando culturas d’além mar e do sul maravilhoso.
Aprendem tudo. E rápido.
O machismo, esquecido nas cozinhas só para mulheres e nas veredas empoeiradas dos grotões, não impediu quem nunca tinha visto uma bolacha tão grande nem sabia que se come peixe sem fritar, darem os mais requisitados pizzaiolos e sushimen.
No Rio, ocupam solidária e democraticamente todas as comunidades, cortiços e favelas.
Nova Cruz instalou sua representação diplomática no Jacarezinho. Região agreste da cidade, entre a praia de Ramos e o morro do Alemão.
Pra ser mais preciso, nas cercanias do Buraco do Lacerda.
Entre ex-moradores famosos, o senador de origem potiguar Romário Faria (ramo não oligárquico da família) e o falecido justiceiro Paraibinha, oriundo da região do Curimataú-Bujarí, com passagens meteórica pela crônica policial da Guanabara.
Qualquer experiência somava valiosos pontos na conquista dos abundantes empregos. Costureiras e feirantes com mais facilidades.
Mesmo aqueles com pouca experiência. Part time workers, nas feiras das segundas, reforçando o time de vendedores das Lojas Paulista e congêneres concorrentes. Uma carta de recomendação do gerente Waldemar Ferreira podia fazer a diferença na carteira de trabalho.
Eliezer, sapateiro dos bons, camarada comunista, líder do grupo dos 11 de Brizola, conseguiu transferir o ideal igualitário mas não as artes do ofício, para todos os filhos.
Arim, montou oficina e fez sucesso na capital, enquanto os calçados dos ricos e remediados eram feitos sob medida, nas formas customizadas.
Mais novo, Araken, no rastro de tantos amigos que voltavam a passeio, falando carioca, roupas bacanas, fazendo bossa com rádio de pilha, conseguiu um desconto com Dona Maria de Severino Pau-de-Arara e pegou o ônibus da Planalto em busca de vida menos previsível e modorrenta.
A gravata quadriculada não foi disfarce para esconder a identidade do galego sarará, cortador de tecidos para os turcos da Casa Assuf, na Nossa Senhora de Copacabana.
O conterrâneo, acompanhante da patroa na compra do enxoval para o quarto e sala, fez o reconhecimento e o teste.
Perguntou pela origem do vendedor. Alemão, croata ou gaúcho?
Com sotaque do Irajá, disse ser do norte.
Na frente do gerente, ficou ainda mais amarelo quando o amigo de infância, disse tê-lo achado a cara de um cara da sua terra que tinha arribado depois de ter pintado e bordado. E fugido da polícia.
O encontro e a brincadeira acabaram em reminiscências e olhos marejados de saudade.
Trocar nome de rua é burrice. Por mais inportante que seja a figura não deteve mudar o nome de uma rua ou avenida. Têm muita duas projetadas sem nome. Ponham o nome de Naval do numa dessas ruas.