BENDITAS SEJAM VÓS
O novo layout deste Território Livre tem lembrado postagens anteriores.
Algumas mostram-se tão atuais, que pedem uma chance de renascer, ocupando os primeiros e mais nobres espaços do blog, nem que seja por alguns minutos.
É o caso de um post, alusivo ao dia nacional do surdo, publicado em 28 de setembro de 2020.
A deficiência auditiva da filha de famosa atriz foi comentada, ao lado de outras, de Olívia, a filha muito especial do autor, que hoje comemora aniversário, dando demonstrações de capacidade e alegria de viver.
BENEDITA SEJA VOZ
Ao final de um filme de pouco mais de dois minutos que postou nas redes sociais, a atriz Regina Casé recomenda a pesquisa do significado de uma palavra.
Benedita, sua filha de 32 anos, mãe de Brás, diretora de audiovisual, é portadora de perda auditiva severa, consequente ao uso de antibiótico ototóxico, na infância.
Convive com a deficiência, a leitura labial, uso de aparelho auditivo e desconfianças no que consegue entender e fazer.
No rápido roteiro da filmagem, são lembradas situações corriqueiras com pessoas que têm dificuldade em lidar com as consideradas fora do normal.
Tão igual e repetido.
Quando o amigo comenta que viu as postagens nas redes sociais, e pergunta se houve participação do pai da usuária do Facebook, e em que ele a ajudou.
Quando o mesário, na sessão de votação, informa que a eleitora pode ser acompanhada na cabine indevassável.
Quando o garçom oferece o cardápio a todos à mesa, e esquece de entregar à jovem mulher com Síndrome de Down.
E mesmo se a pessoa com a deficiência estampada no rosto e na estatura, lê o que foi entregue à mãe, sua escolha não é perguntada diretamente.
Quando a criança mergulhava na piscina, e todos ficavam apreensivos até a primeira braçado do crawl, como se aquelas feições revelassem origens no deserto de Gobi. E pela falta d’água, não tivesse aprendido a nadar.
Quando a diretora do jardim de infância debulhava as dificuldade em receber a criança que julgava atrapalharia o trabalho da professora, antes de recomendar escola especial.
Quando no aconselhamento genético, há 41 anos, o especialista, de fama e recomendação, vaticinou uma expectativa de vida adolescente.
Quando o conselho recebido pelos pais, marinheiros de primeira viagem, era de procurar logo ter um segundo, para compensar os defeitos da primogênita.
Tudo isso e muito mais que o tempo não fez esquecer, ao contrário do que se possa pensar, não foram atos de preconceito, nem discriminação.
As pessoas se comportaram e continuam assim, simplesmente por falta de informação.
Não é por menosprezo, nem maldade. Muitos, movidos pelos mais puros sentimentos de solidariedade e desejos sinceros de cooperação.
De fazer a vida daqueles frágeis assemelhados, menos severa do que lhes parece.
Os americanos passaram a usar a palavra ‘ableism’ para corresponder a este sentimento de desconfiança na capacidade de realização de quem não se espera quase nada.
Traduzido, o termo agora divulgado de maneira inteligente e bem-humorada é ainda pouco conhecido.
As pessoas com necessidades especiais, deficiências físicas ou déficits cognitivos têm capacidades, limitações e potenciais.
Nem todos sabem, e poucos acreditam.
Muitos acham que a incapacidade é sempre total.
Quem teve a oportunidade de estudar em escolas inclusivas, poucos, fazem diferente.
Procure saber também o que é ‘capacitismo’, antes de perguntar.
–Será a Benedita?
Assista:
https://twitter.com/reginacase/status/1309881203911258112?s=21