24 de abril de 2024
GUERRA

Efeito da guerra: Bailarino brasileiro troca Bolshoi por Staatsballet Berlin

Por Ancelmo Gois no Globo 

A invasão russa da Ucrânia provocou a saída em março dos quatro brasileiros do famoso balé Bolshoi.

Entre eles, o primeiro solista David Motta Soares, 25 anos.

Filho de uma auxiliar de serviços gerais e um motorista, ele foi de Cabo Frio para Moscou com apenas 12 anos. Sozinho.

Enfrentou a solidão, a língua e o frio. Pensou em desistir várias vezes, mas a sua meta era chegar a primeiro bailarino da companhia. David e outros três conterrâneos pediram desligamento do Bolshoi por causa da guerra.

Três vão para o Staatsballet Berlin, na Alemanha, considerada uma das maiores companhias de balé do mundo (o outro ficou  numa companhia em Londres). David vai ser primeiro-bailarino da companhia  na Alemanha.

Antes, porém , ele fará três apresentações especiais, dias 14, 20 e 22 de maio, com a primeira-bailarina Cláudia Motta no Teatro Municipal do Rio. Vão dançar Lago dos Cisnes, o famoso balé de Tchaikovsky ( 1840-1893):

“Deixei a Rússia com o coração bem partido”, contou o bailarino fluminense para Ana Cláudia Guimarães, da turma da coluna. “Deixei para trás amigos e um trabalho dos sonhos, embora a direção do balé tenha dito que eu poderia voltar quando quisesse. Quem sabe um dia quando isso tudo acabar?”.

Aliás, David não entende a posição de certos setores do Ocidente, felizmente minoritários, de cancelar a apresentação de artistas e desportistas russos por causa da sandice de Putin.

“Meus colegas ficaram numa posição muito frágil com a guerra. Caso se posicionassem, seriam demitidos e presos. Somos artistas e não políticos e acho que a arte não deveria ser colocada nesse meio porque não seria um absurdo não tocar mais Tchaikovsky e nem mesmo pensar em balé e não lembrar do Bolshoi”.

Tem razão. 

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