Efeito da guerra: Bailarino brasileiro troca Bolshoi por Staatsballet Berlin
Por Ancelmo Gois no Globo
A invasão russa da Ucrânia provocou a saída em março dos quatro brasileiros do famoso balé Bolshoi.
Entre eles, o primeiro solista David Motta Soares, 25 anos.
Filho de uma auxiliar de serviços gerais e um motorista, ele foi de Cabo Frio para Moscou com apenas 12 anos. Sozinho.
Enfrentou a solidão, a língua e o frio. Pensou em desistir várias vezes, mas a sua meta era chegar a primeiro bailarino da companhia. David e outros três conterrâneos pediram desligamento do Bolshoi por causa da guerra.
Três vão para o Staatsballet Berlin, na Alemanha, considerada uma das maiores companhias de balé do mundo (o outro ficou numa companhia em Londres). David vai ser primeiro-bailarino da companhia na Alemanha.
Antes, porém , ele fará três apresentações especiais, dias 14, 20 e 22 de maio, com a primeira-bailarina Cláudia Motta no Teatro Municipal do Rio. Vão dançar Lago dos Cisnes, o famoso balé de Tchaikovsky ( 1840-1893):
“Deixei a Rússia com o coração bem partido”, contou o bailarino fluminense para Ana Cláudia Guimarães, da turma da coluna. “Deixei para trás amigos e um trabalho dos sonhos, embora a direção do balé tenha dito que eu poderia voltar quando quisesse. Quem sabe um dia quando isso tudo acabar?”.
Aliás, David não entende a posição de certos setores do Ocidente, felizmente minoritários, de cancelar a apresentação de artistas e desportistas russos por causa da sandice de Putin.
“Meus colegas ficaram numa posição muito frágil com a guerra. Caso se posicionassem, seriam demitidos e presos. Somos artistas e não políticos e acho que a arte não deveria ser colocada nesse meio porque não seria um absurdo não tocar mais Tchaikovsky e nem mesmo pensar em balé e não lembrar do Bolshoi”.
Tem razão.