26 de abril de 2024
Coronavírus

ESCAFEDIDA NA PANDEMIA

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Hekura, pássaros de cura – Ana Mendina (2018)

Antes recebida com honras reservadas às celebridades, este ano, se chegou, ninguém soube, ninguém viu.

Não se esperava mesmo que a visita anual, depois de caída na rotina, fosse anunciada nas primeiras páginas dos jornais.

Daí a não merecer nem um cantinho, daqueles que informam a possível falta de peixe na semana santa, é uma tremenda injustiça.

A quadra chuvosa atestada pelos meteorologistas já está fazendo a alegria (clandestina) nas sangrias dos açudes e não se dá a mínima pra quem agitava os invernos desde que voltou a frequentar o pedaço.

Deve ter perdido o sotaque ou virado arroz de festa.

Não somente ela, as aparentadas que saíram dos mesmos grotões para conquistar as cidades, também não deram as caras.

Com todas as atenções voltadas para uma superstar, não sobrou cientista algum para as devidas e convincentes análises e explicações.

Isolados observadores da vida em cativeiro e curiosos da entomologia constataram não ser por falta de vetores .

A família Culicidae é numerosa.

E unida. Continua zoando os ouvidos mas há  mais de um ano não se veem carros fumacê em circulação.

Os guardas da malária, depois promovidos a agentes de endemias e vigilantes sanitários, não mais frequentam as residências.

As bromélias sem seus predadores naturais, nunca estiveram tão viçosas.

Caixas-d’água, calhas, tambores e outras tralhas se acumulam nos fundos dos quintais sem despertar promessas, nunca cumpridas, de faxina geral no sábado que nunca vem.

Do lixo e do acumulado em terrenos baldios, não é bom nem falar.

A culpa vai ser do burro da carroça ou de quem não sabe fazer o descarte, sem paciência de esperar o dia da coleta.

O assunto também cansou. Perdeu espaço no noticiário dominado por buracos e crateras de rua que festejam aniversário com direito a bolo de padaria e transmissão ao vivo, no horário mais nobre da TV.

Que a desaparecida anda diferente, ninguém duvida.

Não frequenta mais os ambientes onde era rainha.

Pelos pronto-socorros nunca mais passou.

Há quem atribua este sumiço a uma certa inveja.

Ou ciúme.

Por tudo que fez, nunca recebeu tanta atenção quanto o forasteiro desconhecido,  que nem tirou a catinga do mijo e já sentou na  poltrona na janela.

Quem jamais teve reservas de leitos exclusivos nos hospitais, muito menos UTIs inteiras, tem direito ao choro da Maju.

Enquanto os comitês científicos não se pronunciarem, o real motivo desta ausência não será esclarecido.

Estudos clínicos, em fase inicial, procuram provar que na guerra ideológica do tratamento da virose do século, os médicos precoces, adoradores de drogas sem comprovação científica, como aconteceu com as melhores penicilinas do mundo, acertaram no que não viram.

A Ivermectina deve ter acabado com a Dengue.

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             Gustav Klimt – Medicine & Hygeia (1901)

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