26 de abril de 2024
Comportamento

LONGE DO ALTAR, PERTO DE JACAREZINHO

 

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As notícias ocupam os espaços mais destacados, até que  um fato novo venha trazer mais comoção,   tomar o lugar e roubar o interesse.

O ocorrido na comunidade do Jacarezinho, com repercussão internacional, tem um significado singular e desperta lembranças nos oriundos de Nova Cruz.

Era lá, nas suas travessas, vielas e becos, sobre alagadiços, palafitas, aterros, onde pousavam as aves de arribação que deixavam o agreste quando mau tempo fazia.

No gueto, se ajudavam. Quem tinha ofício, não ficava parado.

Balconista de anotação na profissional, garantia o fixo mais comissões.

Portadores de referências, bons antecedentes e conduta ilibada, eram logo aceitos como trainees.

Ou quem sabe, cumim, com promessa de, depois do probatório, receber a gravata de garçom.

Quando fazia bom tempo, invernada de encher mealheiro, voltavam em bandos para as margens secas do Curimataú.

Pra botar uma birosca, abrir um negócio com norrau das vitórias nos campos de batalha e selvas da cidade grande.

De roupa bacana, penteado da moda, cordões reluzentes no pecoço e pulseiras que lembravam algemas de ouro, Cabelinho estava no pedaço,  por uns dias.

Férias para matar a saudade da família, tirar umas broncas, rever amigos e quem sabe, levar alguns para a boa vida imaginada, de oportunidades, facilidades e delícias.

Boa-pinta,  não demorou a aparecer também, mocinhas casadoiras.

Deu liga com a filha da costureira.

Paixão de novela das nove, tinha que terminar em compromisso sério.

O pouco tempo, que mal dava  para correr os proclamas, não permitia convites, nem festas.

As famílias na calçada do cartório era sinal que o matrimônio era de gosto. Ou de jeito.

Tudo teria terminado na cena final, em take de plano  americano, com o clássico felizes para sempre, antes do the end, se não fosse a intromissão de uma  transeunte a caminho do expediente na loja que mobiliava os doces lares de todos os nubentes da freguesia de Nossa Senhora da Conceição.

Comadre dos dois lados dos clãs em enlace, tinha autoridade para fazer o que sempre fez.

Intrometer-se na vida do eleitorado obediente e cativo.

Daquela vez, em total desacordo com sua jurisprudência peculiar, não levou em consideração  a justificativa  confidencial de avanço do sinal, para  determinar ao competente notário, que suspendesse a cerimônia já iniciada.

Do noivado abortado, não resultou prole.

Os separados compulsórios fizeram planos para breve reencontro, a distância abafou  o fogo juvenil e o passar do tempo desatou os nós das juras de amor eterno.

Anos depois, como acontece nos contos de fadas, os personagens voltam ao enredo para atualizar o fim da estória.

A noiva em apuros, desencantou outro príncipe e juntos, plantaram árvore de muitos frutos.

A madrinha intransigente manteve a fama de nunca errar nas desconfianças com as ostentações de fortunas instantâneas.

O São Sebastião Esporte Clube  perdeu um promissor ponta-direita.

Em Jacarezinho, mais um justiceiro alcançou glória efêmera e vida curta.

Na manchete do jornal, o nome dele era Paraibinha.

Wanderléa —  Pare O Casamento – ( Remasterizado em HD )

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