30 de abril de 2024
ComportamentoCoronavírus

PARA NÃO ESQUECER O PACIENTE ZERO

A criança doente (1886) -Edvard Munch

Vésperas de carnaval, as longínquas notícias do oriente chegavam amenizadas pelo não reconhecimento do estado de pandemia pela Organização Mundial da Saúde.

Os primeiros casos já surgiam na Europa, vistos como regionais,  isolados e que assim permaneceriam.

Problema deles.

Sem ocorrências em terras brasileiras, a vida seguia em ritmo de frevo.

Aeroportos livres de restrições.

Ruas cheias de alegria, descontração e gente.

O direito de ir e vir garantido a quem podia pagar cruzeiros em transatlânticos com múltiplas paradas em cidades italianas, o local da segunda grande explosão viral, que só foi ouvida quando os viajantes contavam suas aventuras para quem viveu a folia, no Largo do Atheneu.

Não havia quem acreditasse que em pouco tempo, Wuhan e a Lombardia estariam tão perto da Praça do Gringo.

Enquanto os negacionistas acreditavam nas  condições climáticas e na proteção pelo calor dos trópicos, alarmistas traduziam em números multiplicados, as previsões catastróficas do Imperial College de Londres.

Continuava o antagonismo, também na saúde e na doença.

Na vacina e no tratamento precoce.

Mal conhecidos os resultados dos desfiles carnavalescos, a pauta da próxima notícia.

Expectativa pelos primeiros casos.

A realidade mais cruel de todas, para os potiguares, começou com uma pequena grande mentira.

Uma estória bem contada, perfeita e exemplar para o primeiro  registro da primeira ocorrência.

Quem iria desconfiar de um jovem intérprete e cicerone para um grupo de investidores chineses, contaminado numa escapada de fim-de-semana na Pipa?

Com o fantasioso relato, a população recebeu as primeiras informações sobre cuidados e prevenção.

A imprensa surfou na onda fantasiosa.

Destaque de primeiras páginas e  plantão de notícias.

Entre as fakenews nas redes sociais, a falsa máscara e a casa caíram.

Um mitômano de Baía Formosa, sem sintomas, sem evolução do caso clínico, sem registros da visita dos empreendedores, ficou como nosso paciente zero.

O primeiro.

O que nunca existiu.

A tempestade (1893)-Edvard Munch
Amor e Dor  (1894) – Edvard Munch
A ansiedade (1894) – Edvard Munch

“Quero mais do que uma mera fotografia da natureza. Não quero pintar quadros bonitos que sejam pendurados nas paredes dos salões. Quero criar, ou pelo menos, estabelecer as bases de uma arte que dê algo à humanidade. Um arte que prenda e envolva. Uma arte criada do coração mais íntimo de alguém. ”

Edvard Munch (1863-1944)

(Publicação original em 6/2/2022)

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