26 de abril de 2024
Imprensa Nacional

MALUFADAS

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Aos 89 anos, cumprindo prisão domiciliar, ninguém tem dúvidas que o ex-prefeito, governador e deputado Paulo Maluf  já em nada influencia as eleições.

O malufismo morreu.

Não teve velório, nem enterro. Ninguém carpe suas memórias.

Não deixou herdeiros.

Nem herança.

Há 25 anos, no seu segundo mandato de prefeito da maior cidade do país, o quase primeiro presidente civil depois da última ditadura, foi entrevistado no programa Roda Viva da TV Cultura.

Com direito à mesma  repercussão de todas as entrevistas, mais pela audiência qualificada que a medida em números do Ibope.

Sempre com um jornalista de prestígio à frente e uma bancada de entrevistadores escolhida no serpentário das melhores redações dos maiores jornais e revistas de grande circulação.

Em 1995, era Matinas Suzuki,  o presidente da corte sem apelação.

Seus jurados, conhecidíssimos editores-chefes da grande imprensa.

No centro do estúdio-anfiteatro-picadeiro, o réu e advogado para defender-se das acusações de ter decretado um ato de extrema violência contra a auto-determinação dos cidadãos de bem, pagadores de impostos.

A proibição de fumar em restaurantes e bares era tema altamente inflamável.

Mesmo que a medida permitisse o vício tão prejudicial à saúde, em  salões e espaços reservados.

Pela polêmica que o polêmico  administrador que fazia (e dizem que naquilo também era mestre) causou, é de se imaginar que a restrição foi recebida como descabida e excessivamente autoritária.

Depois que a liberdade abriu as asas sobre a nação amordaçada por 21 anos, só uma lei, não promulgada, foi aceita e seguida por todos.

Cantada em versos dos menestréis libertários, a nova  ordem era dizer não ao não.

Era proibido proibir.

Foram precisos mais dois anos para o Departamento de Aviação Civil baixar uma portaria banindo cachimbos, charutos e cigarrilhas dos voos domésticos.

Mas só na primeira hora.

De Arapiraca pra baixo, o fumo era livre e a densa fumaça, nervosa.

A obrigatoriedade dos  cintos de segurança levou outros cinco anos para virar norma.

E os passageiros do banco de trás ainda ficaram um tempão livres das amarras.

Não valeram os argumentos do prefeito. Ninguém poderia deixar de fazer o que queria, mesmo que prejudicasse a vida dos outros.

Ou o  politicamente correto não existia, o conceito sofreu genéticas mutações ou o STF ainda não havia medido sua força.

O trecho do debate que virou meme faz pensar nos vários temas defendidos hoje pelos formadores de opinião, co-proprietários das verdades absolutas e paladinos da  maltrapilha democracia.

E se os vilões de agora estiverem certos?

Nossos netos saberão.

E darão boas risadas.

Paulo Maluf – Roda Vida (Proibição de Fumar em Restaurantes)

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