MALUFADAS
Aos 89 anos, cumprindo prisão domiciliar, ninguém tem dúvidas que o ex-prefeito, governador e deputado Paulo Maluf já em nada influencia as eleições.
O malufismo morreu.
Não teve velório, nem enterro. Ninguém carpe suas memórias.
Não deixou herdeiros.
Nem herança.
Há 25 anos, no seu segundo mandato de prefeito da maior cidade do país, o quase primeiro presidente civil depois da última ditadura, foi entrevistado no programa Roda Viva da TV Cultura.
Com direito à mesma repercussão de todas as entrevistas, mais pela audiência qualificada que a medida em números do Ibope.
Sempre com um jornalista de prestígio à frente e uma bancada de entrevistadores escolhida no serpentário das melhores redações dos maiores jornais e revistas de grande circulação.
Em 1995, era Matinas Suzuki, o presidente da corte sem apelação.
Seus jurados, conhecidíssimos editores-chefes da grande imprensa.
No centro do estúdio-anfiteatro-picadeiro, o réu e advogado para defender-se das acusações de ter decretado um ato de extrema violência contra a auto-determinação dos cidadãos de bem, pagadores de impostos.
A proibição de fumar em restaurantes e bares era tema altamente inflamável.
Mesmo que a medida permitisse o vício tão prejudicial à saúde, em salões e espaços reservados.
Pela polêmica que o polêmico administrador que fazia (e dizem que naquilo também era mestre) causou, é de se imaginar que a restrição foi recebida como descabida e excessivamente autoritária.
Depois que a liberdade abriu as asas sobre a nação amordaçada por 21 anos, só uma lei, não promulgada, foi aceita e seguida por todos.
Cantada em versos dos menestréis libertários, a nova ordem era dizer não ao não.
Era proibido proibir.
Foram precisos mais dois anos para o Departamento de Aviação Civil baixar uma portaria banindo cachimbos, charutos e cigarrilhas dos voos domésticos.
Mas só na primeira hora.
De Arapiraca pra baixo, o fumo era livre e a densa fumaça, nervosa.
A obrigatoriedade dos cintos de segurança levou outros cinco anos para virar norma.
E os passageiros do banco de trás ainda ficaram um tempão livres das amarras.
Não valeram os argumentos do prefeito. Ninguém poderia deixar de fazer o que queria, mesmo que prejudicasse a vida dos outros.
Ou o politicamente correto não existia, o conceito sofreu genéticas mutações ou o STF ainda não havia medido sua força.
O trecho do debate que virou meme faz pensar nos vários temas defendidos hoje pelos formadores de opinião, co-proprietários das verdades absolutas e paladinos da maltrapilha democracia.
E se os vilões de agora estiverem certos?
Nossos netos saberão.
E darão boas risadas.
Paulo Maluf – Roda Vida (Proibição de Fumar em Restaurantes)