27 de abril de 2024
Política

NADA COMO SERÁ

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Tudo seria muito diferente não fossem as circunstâncias.

Os poderosos custam a entender isso.

Só percebem quando apeados, voltam à  planície, esquecidos que o caminho não é como visto de cima.

Os novos amigos, os velhos colegas do grupo escolar, os soldados das primeiras horas, os paus para todas as outras, desaparecem. Não são mais úteis para quem não é mais.

Nada mais natural que a indicação de um  ex-ministro para um cargo criado para abrigar ex-ministros no exterior.

Muito depois que a pandemia passar e os gringos já permitirem  turismo de cucaracha, imagine topar com aquele cara e aquela cara que não é estranha, numa loja em Miami onde falam português e perguntar:

Que treta foi tanta que sujou a boquinha certa no Banco Mundial?

            (Publicação original em 25/06/2019)

EX ERA EX

Toda moda quando não começa, passa ou termina na França.

Na política é quase a mesma coisa.

Se os franceses não são mais  protagonistas, continuam como inevitáveis  coadjuvantes.

Nos anos 70, o acirramento das relações entre Estados Unidos e União Soviética só foi abrandado com um toque francês. Pelo menos na palavra-síntese das  intenções, negociações e ações que afastaram o mundo de outra guerra mundial.

Détente.

Abaixo do equador, sem um Gorbatchov  (nem ao menos um Reagan) tínhamos Geisel.

Tão carrancudo mas muito mais arejado que seus antecessores, sentiu e assimilou os ventos internacionais.

Lenta e gradualmente, preparou a volta dos militares aos quartéis.

De onde só vieram a sair de novo, mais de 30 anos depois.

Sob comando de um reles capitão da reserva com menos de dez anos de caserna.

Mas esta é outra história (ou será estória?) a ser contada pelas interceptações e vazamentos  de mensagens criptografadas em  aplicativos de smartphones.

Traduzida, a palavra-chave logo foi incorporada ao linguajar de  scholars, políticos, jornalistas e pinguços de botequim.

Distensão.

Como tudo que surfa na crista da onda, a atmosfera de liberdade era sentida do Leblon a Belfort Roxo. Das Rocas às Quintas.

Até mesmo no atendimento da clínica de luxo preferida pelos chics e poderosos da segunda capital.

Ex-Vice-presidente da República, o almirante de pijama que já começava a  trocar a Rádio Globo pela Tupi, é internado na urgência e precisa de uma sonda para alívio da retenção urinária.

Material pronto. O plantonista calça as luvas mas antes de pegar no,  digamos assim, instrumento, é interrompido.

Pelo ajudante de ordens que se apresenta como tenente-médico.

Ordenando que apenas o professor-doutor poderia fazer o procedimento.

Ainda não tinha caído a ficha do ordenança mas naqueles novos tempos já ouviam-se pela ruas, os estertores da ditadura. E vice era vice. Quanto mais, um ex.

O que explica a contraordem do comandante em chefe da equipe médica.

Sem tempo nem paciência para certas exigências e a agenda do consultório  cheia de encaixes, a bexiga prestes a explodir teria que ser esvaziada pelo  jeune docteur.

Que aproveitou a ocasião e pra não deixar o serviço pela metade, foi fundo no exame da próstata da ex-sub-autoridade.

One thought on “NADA COMO SERÁ

  • Geraldo Batista de Araújo

    Comentários até à realidade histórica. Tempos duros para quem não andasse na linha. Dr
    Onofre homem da direita, mas não admitia que os solfsdis da ditadura entrassem na Universidade. Iaperi Araújo estudante de medicina trabalhava na Editora Universitária onde eu era o chefe. Um soldado foi à Reitoria para prender Japeri. Avisei a Dr. Onofre ele foi falar com o oficial e lhe disse. Aqui na Universidade só se entre através do Vestibular. Retire-se. O oficial botou o rabo entre as pernas. Depois foi ao endereço de Japeri e o levou preso. Fui um dos poucos que foi visitá- lo no 16 RI.

    Resposta

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