26 de abril de 2024
Eleições

NOSSA MANA

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A disputa entre primos, pela prefeitura do Recife, fez muita gente lembrar de outra, muito mais próxima e inusitada.

Com o nihil obstat de alguns dos personagens, uma viagem ao passado, 28 anos depois de muitas outras batalhas, vitórias, derrotas  e reaproximações.

No tempo das campanhas memoráveis e apaixonantes, as cores vivas das bandeiras e os clãs ainda não se misturavam.

Na salutar alternância do poder e das oligarquias, a esposa do senador e ex-governador Lavoisier Maia, é a sucessora de Garibaldi Alves Filho, o primeiro eleito pelo voto popular depois da redentora que virou golpe.

Wilma Maia, por sete mil votos,  ultrapassou Henrique Alves, primo do prefeito.

Quatro anos depois, sem a usura do mecanismo da reeleição, chegava a hora do deputado tentar de novo a primeira incursão pelo poder executivo, para quando  estivesse mais experiente, pegar o rumo ao governo do estado.

Mais à esquerda, no campo oposto do mesmo centrão, os estrategistas viram logo as dificuldades para eleger o poste da prefeita.

Incentivar o médico da pobreza, Pedro Lucena para a revanche de 1966, depois de ter se alinhado aos ex-adversários, não seria suficiente.

Foi quando aconteceu o improvável e inacreditável.

A vereadora Ana Catarina Alves Wanderley resolve mudar de partido e aceita a corda e o convite dos ferrenhos opositores para entrar na briga da eleição municipal.

Irmã gêmea do favorito, fez de uma auto-proclamada proximidade com o povão, esperança  de transferência  dos votos familiares.

Preterida pelo patriarca, procurou a comunicação mais direta com as pessoas comuns, a gentinha, herança deserdada do pai.

Se fez íntima da nova família ampliada, em cartazes, santinhos e outdoors.

Nossa Mana.

Mesmo tendo como companheiro de chapa um campeão em eleições (para a Academia de Letras), acabou em terceiro lugar, fora do segundo turno.

As análises dos resultados das urnas foram unânimes.

A fatura poderia ter sido resolvida antes, não tivesse havido a fraterna concorrência.

1992 estava mesmo fadado a ser um ano de emoções fortes.

No segundo turno, a zebra não deixou a cancha nem os palanques.

Aldo Tinoco Filho, saído dos quadros da burocracia administrativa, venceu o páreo, decidido no fotochart.

Torturantes 961 votos.

Apurados um a um, contagem entrando pela madrugada, como na Georgia ou Pensilvânia do século XXI.

Além de outros milagres, a política, ao seu tempo, dá voltas, esquece diferenças e desavenças.

E a vida se encarrega de, mais à frente, juntar os contrários.

Charada para ser decifrada facilmente por quem participou ou lembra desta história:

O mano, marqueteiro da mana, é sogro do mano.

Mercedes Sosa – Los Hermanos

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2 thoughts on “NOSSA MANA

  • observanatal

    Uma campanha inesquecível pelas reviravoltas. A mana criou um jingle que grudou nos ouvidos, tornou-se vítima; o mano, ouviu pouco a gentinha e perdeu para o improvável, com a força da guerreira.

    O mano poderia ter aprendido com 1992, não aprendeu, o resultado de 2014 resume o que foi mais uma reviravolta.

    O improvável sumiu, é sinônimo de má gestão, só perdendo para quem era novidade em 2008-2012.

    A mana, se não fosse querer dar o passo maior do que a perna, prejudicando o mano, poderia ainda estar no Pantaleão político potiguar. Perdeu-se.

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  • Onézimo Fernandes

    Como sempre o “mano” daqui dá um show com as palavras.

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