NOSSA MANA
A disputa entre primos, pela prefeitura do Recife, fez muita gente lembrar de outra, muito mais próxima e inusitada.
Com o nihil obstat de alguns dos personagens, uma viagem ao passado, 28 anos depois de muitas outras batalhas, vitórias, derrotas e reaproximações.
No tempo das campanhas memoráveis e apaixonantes, as cores vivas das bandeiras e os clãs ainda não se misturavam.
Na salutar alternância do poder e das oligarquias, a esposa do senador e ex-governador Lavoisier Maia, é a sucessora de Garibaldi Alves Filho, o primeiro eleito pelo voto popular depois da redentora que virou golpe.
Wilma Maia, por sete mil votos, ultrapassou Henrique Alves, primo do prefeito.
Quatro anos depois, sem a usura do mecanismo da reeleição, chegava a hora do deputado tentar de novo a primeira incursão pelo poder executivo, para quando estivesse mais experiente, pegar o rumo ao governo do estado.
Mais à esquerda, no campo oposto do mesmo centrão, os estrategistas viram logo as dificuldades para eleger o poste da prefeita.
Incentivar o médico da pobreza, Pedro Lucena para a revanche de 1966, depois de ter se alinhado aos ex-adversários, não seria suficiente.
Foi quando aconteceu o improvável e inacreditável.
A vereadora Ana Catarina Alves Wanderley resolve mudar de partido e aceita a corda e o convite dos ferrenhos opositores para entrar na briga da eleição municipal.
Irmã gêmea do favorito, fez de uma auto-proclamada proximidade com o povão, esperança de transferência dos votos familiares.
Preterida pelo patriarca, procurou a comunicação mais direta com as pessoas comuns, a gentinha, herança deserdada do pai.
Se fez íntima da nova família ampliada, em cartazes, santinhos e outdoors.
Nossa Mana.
Mesmo tendo como companheiro de chapa um campeão em eleições (para a Academia de Letras), acabou em terceiro lugar, fora do segundo turno.
As análises dos resultados das urnas foram unânimes.
A fatura poderia ter sido resolvida antes, não tivesse havido a fraterna concorrência.
1992 estava mesmo fadado a ser um ano de emoções fortes.
No segundo turno, a zebra não deixou a cancha nem os palanques.
Aldo Tinoco Filho, saído dos quadros da burocracia administrativa, venceu o páreo, decidido no fotochart.
Torturantes 961 votos.
Apurados um a um, contagem entrando pela madrugada, como na Georgia ou Pensilvânia do século XXI.
Além de outros milagres, a política, ao seu tempo, dá voltas, esquece diferenças e desavenças.
E a vida se encarrega de, mais à frente, juntar os contrários.
Charada para ser decifrada facilmente por quem participou ou lembra desta história:
O mano, marqueteiro da mana, é sogro do mano.
Uma campanha inesquecível pelas reviravoltas. A mana criou um jingle que grudou nos ouvidos, tornou-se vítima; o mano, ouviu pouco a gentinha e perdeu para o improvável, com a força da guerreira.
O mano poderia ter aprendido com 1992, não aprendeu, o resultado de 2014 resume o que foi mais uma reviravolta.
O improvável sumiu, é sinônimo de má gestão, só perdendo para quem era novidade em 2008-2012.
A mana, se não fosse querer dar o passo maior do que a perna, prejudicando o mano, poderia ainda estar no Pantaleão político potiguar. Perdeu-se.
Como sempre o “mano” daqui dá um show com as palavras.