26 de abril de 2024
Medicina

REALIDADE VIRTUAL

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Quando a verdade é muito dura para ser aceita, o pensamento fantástico pode explicá-la.

A Medicina tem um pacto com a e cada um ocupa e respeita seus espaços.

Território de clima sempre tenso e palco de dramas pessoais e familiares, os hospitais de urgência são fontes inesgotáveis de estórias.

Dramáticas.

Fantásticas.

Patéticas.

         (Publicação original em 24/07/2019)


O  PAI QUE QUERIA SER CEGO

Há sempre uma reclamação. Pelos modos e maneiras de se dar uma notícia a quem não está preparado para recebê-la.

As revelações de certos diagnósticos e prognósticos quase sempre deixam cicatrizes. Que vão virar queloides.

Muito comum, paciente  ser atendido em hospital que trata exclusivamente câncer, e o acompanhante falar baixinho para o médico, como a pedir leitura labial, para que não seja pronunciada aquela palavra na frente do doente.

Em prontos-socorros  as comunicações são tão traumáticas quanto as lesões tratadas.

E quando ocorrem os infortúnios, a tarefa é  delegada. Para a  psicóloga, quando tem. Assistente social, quando está. Ao agente funerário, sempre alerta.

Ninguém é bom em dar notícia ruim.

Cirurgiões mesmo os de tarimba e vasta experiência têm cada um, sua coleção de casos que nunca esquecerão.

Podem até explicar, ainda paramentados e com respingos de sangue no avental que tudo foi feito mas infelizmente ...                 

Preferem lembrar dos que sobreviveram por um pequeno e milagroso detalhe. E perícia profissional.                                     

  • O projétil passou a milímetros da medula espinhal…                 
  • Se não fosse o celular no bolso esquerdo da camisa…                    
  • Quando chegou, a sala de cirurgia estava livre, preparada e a equipe também…                            
  • Tivesse demorado mais cinco minutos, com aquela veia perfurada, não sei o que teria ocorrido…

A volta de uma cirurgia na emergência é sempre de muita tensão pra quem espera  E o momento de receber e dar explicações.                               

A cena se repete. Interessados, amigos e parentes, na porta,  querendo saber o desfecho. Depois, os detalhes.

Daquela vez, um caso fora da rotina da violência urbana. Do trânsito e das agressões interpessoais.

Inusitado e de constrangedor relato,  pelo achado na operação.

O pai ao ser informado que a causa da obstrução intestinal foi um pedaço de cabo de vassoura, permaneceu calado e pensativo por alguns instantes.

Para romper o silêncio,  apresentando sua hipótese esclarecedora da etiologia, via de entrada e reputação familiar.

-Doutor, meu filho tem mania de mastigar palitos de fósforo.  Será que eles cresceram no intestino?

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