UM TABAJARA EM NOVA IORQUE
Não havia nem arrumado as gavetas na entrada, quando recebeu a primeira tapa na cara.
A reação à sua posse no ministério, pode ser resumida ao vaticínio precoce do cronista e biógrafo Ruy Castro:
Pazuello assinou os óbitos de nossos pais e avós; a Queiroga caberão os de nossos filhos e netos.
O cargo havia se tornado maldito. Tão efêmero e rotativo que não mais comportava prazos de carência e trégua para a avaliação inicial de desempenho.
A experiência de Nelson Teich, o breve, que mal completou um mês lunar, foi marcante.
Não teve direito a lua de mel com o poder.
Não lhes foi reservado tempo de esquentar a poltrona. Não posou para a foto oficial que ilustra qualquer currículo.
A fatídica reunião pornofônica do primeiríssimo escalão do governo, deixou a vasta cabeleira mais desgrenhada e a certeza que Brasília não era praia para sua carioquice.
O primeiro beco, apontado pelo colega da Educassão, foi o caminho para o guichê do bilhete azul.
Como numa prova de revezamento onde o último a receber a baqueta é quem deve cruzar a marca final, não se pode dizer que o Ministro Marcelo Queiroga tenha despertado sentimentos positivos.
A expectativa era que a mudança estava sendo feita para que nada mudasse.
Já no curto período de adaptação aos labirintos do poder, ainda sem conseguir equilibrar a máscara no narigão, apresentou seu plano, de pauta única: vacinar o maior número de pessoas, no mais curto espaço de tempo.
Quando afirmou que muito em breve estaríamos injetando doses em um milhão de ombros por dia, houve quem duvidasse.
O que pensam estes mesmos céticos, quando o objetivo, multiplicado por três, é ultrapassado?
Alguém imaginava que em seis meses, estaria havendo briga para se incluir na fila, adolescentes e crianças que nunca estiveram na vontade inicial de alcançar a população adulta?
O gentio índio cariri sobreviveu a duas fogueiras da profana inquisição do senado e seguiu determinado, com o exército possível, fiel ao seu comandante, como sói esperar de todo combatente.
No topo do mundo, enquanto cumpre a didática quarentena para os vacinados e não imunes a todas as cepas, virou manchete em inglês.
Por ter reagido com os mesmos dedos aos que iniciaram a guerrilha de gestos considerados por quem apresenta em suas telas luminosas, cenas de corar a freira mais experiente da clausura, obscenos.
Não se esquece raizes sertanejas de Cajazeiras só porque se está passando uma chuvinha ao abrigo de um pé de Big Apple.
Quem mostra o que quer, vê o que não quer.
Mesmo que seja a tigresa do menestrel.
Sempre há uma esperança e uma razão pra cantar.
É proibido proibir. E preciso, perdoar.
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Ouça:
Caetano Veloso – é proibido proibir (LEGENDADO)