27 de abril de 2024
Política

Robinson e a beleza da Rosa

Artigo escrito pelo jornalista Adriano de Sousa e publicado na edição impressa desta Tribuna do Norte:

O presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Cláudio Santos, fez o que a oposição não quer, não sabe ou não consegue fazer. Em artigo publicado terça-feira na TRIBUNA DO NORTE, enfeixou, embrulhou e remeteu ao destinatário, com um laço de cetim por cima, uma contundente análise de dilemas e vacilos do governo do estado. O tom é de impaciência e decepção, dois sentimentos que não parecem novos nem localizados.

Eles já transparecem na entrevista em que o empresário Bira Rocha cutucara a classe política em geral e o governo em particular, cobrando convergência, inteligência e resultados. Agora ganham alguma expressão numérica na pesquisa Fiern/Consult que avaliou os serviços públicos. Numa escala de 0 a 10, a segurança (3,4) e a saúde (3,1) aparecem como os piores entre os dez serviços avaliados pela população. Duas áreas associadas diretamente ao governo estadual, ainda que a responsabilidade não seja só dele. A reprovação à segurança pública demonstra que os números do governo, com redução nos índices de criminalidade, empalidecem diante da realidade percebida pela população no dia-a-dia.

O artigo e a pesquisa foram publicados num dia de noticiário especialmente negativo. O decreto de emergência no sistema prisional foi prorrogado porque, ao fim do primeiro período, as obras pouco avançaram e o caos não se desfez. O estado pediu à União dinheiro para obras e serviços que amenizem a escassez de água em dezenas de municípios, uma bomba social por enquanto com mecanismo de retardo.

O Orçamento Geral divulgado no dia seguinte consagrou o voto forçado de pobreza: queda de receitas, aumento de gastos com pessoal, corte nos investimentos. Embora carregue o mérito de render-se à realidade, a peça não traz nenhum alento de que 2016 será diferente de 2015. A debilidade crônica do Tesouro Estadual, que passa de gestão a gestão sem que nenhuma delas quebre o círculo vicioso da ineficiência no gasto, é agravada pela conjuntura de crise econômica, empurrando o Rio Grande do Norte para uma zona cinzenta sem horizonte de reversão.

A ruína financeira do estado não é mérito apenas do Executivo. O Judiciário e o Legislativo são sócios na massa falida, com graus de responsabilidade diferentes mas igualmente determinantes. O problema maior é que resolver a equação exige sincronia de esforços e desarmamento de espíritos. A vaidade individual não deveria ser maior que a necessidade coletiva. Cada poder parece empenhado em construir soluções e discursos próprios. A dispersão indica falta de liderança para coordenar forças e tocar adiante o elefante ronceiro.

Até aqui o governo de Robinson Faria tem a beleza da rosa. Sua âncora financeira (presente e futura) é o triplo legado de Rosalba Ciarlini: o crédito do Banco Mundial via RN Sustentável, o financiamento de R$ 850 milhões contratado ao Banco do Brasil e a lei que permitiu o uso dos recursos da Previdência no pagamento da folha. Os empréstimos são vitais para garantir o investimento mínimo possível em tempos de penúria. O Fundo de Previdência é o volume morto do caixa estadual. A transfusão de recursos segue a lógica meio suicida de empenhar o futuro para salvar o presente. Mas é o fio de esperança de um governo em seca de esperanças. Sem ele, é a descida à vala infernal do atraso de salários, onde já agonizam governos e governantes de estados mais ricos.

Foto: Elisa Elsie

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