41 VEZES DIEGO
A imprensa, ampliada em portais, blogs e mídias sociais é cada vez mais, movida a novidades instantâneas.
Os assuntos que ocupam espaços no noticiário são sucessivamente substituídos por outros mais recentes e empolgantes. Não há a próxima edição. Nem a do dia seguinte.
Uma catástrofe em remoto país do oriente não recebe tanto destaque como um poste derrubado na esquina, com sua maior consequência, as horas do quarteirão sem luz.
A barbárie do espancamento até a morte de um pobre homem de cor negra por dois guardas de segurança, pardos e pobres, já não ocupava as primeiras páginas quando aconteceu o maior desastre rodoviário do ano.
No mesmo dia, a notícia do falecimento do ídolo do futebol passa a monopolizar as breaking news.
A morte por causas naturais de quem, aos 60 anos, convalescia de delicada cirurgia cerebral, causou mais impacto. Plantão de notícias e miríade de testemunhos. Comoção além das fronteiras e das rivalidades esportivas.
Na tragédia, como sempre acontece, a procura por responsáveis é certa. Descobre-se sempre a falta de algum alvará ou licença e alguem para ser responsabilizado.
Falha humana.
Falha mecânica.
Falha de freios.
Falha do destino.
O ônibus transportava operários de uma fábrica a vinte quilômetros das suas moradias.
Não tinha autorização para o tipo de transporte.
Não tinha contratantes.
O serviço, totalmente informal, era acertado entre o motorista e os passageiros. Pagamento mensal, um dia depois do recebimento dos holerites.
Pouco se sabe das estórias dos anônimos.
Pelo pranto nos flashes das TVs, famílias foram atingidas.
Mãe e filha. Namorados. Crianças, a serem criadas pelos avós.
Na maioria, jovens.
Muitos, no primeiro emprego, antecipado pela ociosidade das aulas suspensas pela pandemia e a vontade de progredir na vida.
Quantos já não tinham aprendido que o estudo poderia reservar, no futuro, vagas em transportes mais seguros?
Conversas sobre o futebol, interrompidas bruscamente. O craque do time de várzea não sonha mais. Um dia, um jogo no timão. Ou glória muito longe dali, em Napoli ou Barcelona.
Itaí e seus 27 mil habitantes jamais esquecerão o dia que o resto do país, em pouco tempo já não lembrará quando e onde aconteceu.
Não terá mais esperanças que entre os 41 do enterro coletivo, estivesse em formação, outro filho ilustre, digno de honrarias.
Uma outra Anésia Pinheiro Machado, a primeira brasileira a pilotar um avião em vôo solo. Ou famosa atriz que não surgiu na cidade desde que a dublê de aviadora também fazia sucesso, no cinema mudo.
Um gramático tão dedicado quanto o Prof. Napoleão Mendes de Almeida, para continuar tirando as dúvidas das questões vernaculares.
Mistérios da vida.
Finita.
Imortal.
O texto de hoje é digno dos melhores jornalistas. Só elogio o que é bom de verdsde. Se näo gostasse ficaria calado. E estamos conversados.