3 de maio de 2024
Opinião

Nova Política precisa mostrar o que fez além do extermínio

 

 

 

Roda Viva – Tribuna do Norte – 24/08/22

Completando quatro anos, a chamada Nova Política, implantada no Brasil na última eleição, já pode – e deve – ser avaliada, pelo menos, nos seus aspectos gerais.

Mesmo sem a violência da reforma realizada no Laos, pelo ditador Pol Pot e a sua sanguinolenta aplicação, a partir de 1975, e mais quatro anos do Governo do Quemer Vermelho com mais de um milhão de mortes, a Nova Política terminou exterminando, praticamente, uma geração inteira de políticos (muitos deles sem responder a qualquer denúncia formal, prova ou julgamento), substituídos, na grande maioria, por pessoas sem experiência, e que nunca aceitaram assumir que se tornaram eles “os políticos”, especialmente os que conquistaram mandato.

E a política foi sendo destruída, do ponto de vista subjetivo, desde a Operação Laja Jato que, depois de revelar a maior roubalheira no mundo, resolveu ir além do ”petrolão”, sob  a regência de Rodrigo Janot adotando o pressuposto de que todo político é corrupto, contando com a mídia para impor “essa verdade”, sem respeitar limites, até formar a onda – um verdadeiro tsunami – que foi esbarrar nas urnas de 2018.

 

A NOVA POLÍTICA NO RN

 

Mesmo sem querer fulanizar nessa análise, existe um fato que – sozinho – revela o retrato completo do que foi a Nova Política no RN (e peço antecipadas desculpas pelas citações, indispensáveis). Até porque, até ser implantada, a Nova Política não apresentou um programa, nem revelou os seus propósitos; apenas transformou a insatisfação popular – “o povo brasileiro está de saco cheio” – num elemento agregador para estabelecer uma mudança muito maior no nosso Estado do que houve no movimento militar de 1964, que terminou com a deposição do presidente João Goulart.

Aqui, as urnas de 2018 derrotaram, de uma só vez, dois ex-governadores do Estado, que não respondiam a nenhum processo na Justiça, e elegeram um capitão da nossa briosa Polícia Militar que tinha executado a missão de procurar fazer cumprir em Natal a chamada Lei Seca que proíbe que pessoas alcoolizadas assumam a direção de veículos motorizados.

Resultado: Garibaldi Alves Filho e Geraldo Melo tiveram de ir para casa, derrotados, e o capitão Styvenson Valentim foi para o Senado Federal, mesmo sem raízes no Rio Grande do Norte, onde chegou (do Acre) adolescente e se encaminhou para ingressar nos quadros da Polícia Militar.

 

VISÃO DE CONJUNTO

 

Para evitar mais fulanização na análise vamos para o geral: – A Nova Política, melhorou ou piorou a representação parlamentar do RN? – Afinal o que se exige da representação federal, a partir de parâmetros, apresentados pelos próprios, para avaliar o próprio desempenho, como o número de projetos apresentados, requerimentos feitos e até ofícios enviados? – Mas não existe ninguém para defender os interesses do Estado como um todo, em tempo integral.

É a ação (legítima, legal e indispensável) do parlamentar nos bastidores, defendendo o seu Estado. Além das emendas coletivas ao Orçamento não dá para identificar uma só ação conjunta de importância feita pela bancada federal do RN nesses últimos quatro anos.

E flagrante omissão, como ocorreu semana passada, no preenchimento de lugares importantes para o Estado em órgãos superiores do Judiciário e tendo dois candidatos (um deles garantido por lei) sendo preteridos na hora da nomeação. O juiz Ivan Lira de Carvalho (com o nome figurando em três listas “por merecimento”) e o procurador Marcelo Alves Dias tinham seus nomes nas listas tríplices para Desembargador do Tribunal Regional Federal da 5ª Região. O RN não teve ninguém para falar por ele.

 

POSTOS OCUPADOS

 

Uma análise isenta não pode deixar de registrar o fato de sua bancada ter oferecido ao Presidente da República um nome para o seu Ministério (Fábio Faria) e um suplente (Rogério Marinho) para outro Ministério, como RN tendo, pela primeira vez na história, dois Ministros simultâneos num só governo. Porém Ministros não costumam contrariar o Presidente, que, no caso, assumiu a decisão: “querem tirar do Presidente o direito de nomear?”

Na carona sofrida por Ivan Lira de Carvalho e Marcelo Alves Dias não se ouviu uma só interferência (legítima, legal, indispensável) por nenhum integrante da bancada do Estado em defesa dos interesses do RN. O que, nos tempos da “velha política”, não faltava em defesa dos norte-rio-grandenses em situação semelhante.

Democracia é feita, sobretudo, por políticos. Mas, quando os ocupantes de cargos políticos não assumem essa condição (agora os políticos são eles), fica mais fácil os omissos escaparem de responder pela própria omissão.

 

TAMANHO DA MUDANÇA

 

Antes de conhecer o resultado da eleição de Outubro existe uma verdade que está passando esquecida para a maioria dos analistas: Os grupos dominantes, anteriores à “Nova Política”, não conseguiram apresentar, sequer, um único candidato a cargo majoritário, nem se apresentarem como um grupo autônomo participando da disputa.

E os seus sobreviventes, tentam escapar em cargos secundários, ofertados  pela governadora Fátima Bezerra, seguindo orientação do ex-presidente Lula e revelando uma brutal contradição: Depois de mais de 30 anos, denunciando os malefícios das “oligarquias na política do RN”, fecharam sua chapa com três legítimos representantes de uma dessas oligarquias.

Como, a exemplo do futebol, a política também “é uma caixinha de surpresas”, só com o resultado conhecido, se poderá avaliar a exata presença da Nova Política no RN, a partir dos municípios maiores, onde o fenômeno parece estar se repetindo com a compulsória aposentadoria dos representantes da velha política, – Será que alguém das antigas escapa?

 

 

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